sábado, 27 de junho de 2009

Identidade


Não sei o que sou e não sou o que sei.
Angelus Silesius

foto de Zeynepinyeri

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Resenha do novo livro de Mumia Abu-Jamal

[“Só quero contar uma história que nunca foi contada”, diz Mumia Abu-Jamal sobre seu novo livro: Jailhouse Lawyers: Prisoners Defending Prisoners v. the U.S.A. (Advogados Desde a Prisão: Presos que Defendem Presos vs. os Estados Unidos), City Lights Books, 2009.]

O sexto livro escrito por Mumia Abu-Jamal desde o corredor da morte é publicado justamente no momento em que a Suprema Corte dos Estados Unidos lhe fecha a porta na cara, rejeitando um pedido de recurso de Mumia para que fosse repetida a fase do veredito do seu
julgamento de 1982,
e a campanha para executá-lo novamente se renova. O livro foi apresentado em 24 de abril na Filadélfia, Nova York, Oakland, Detroit, Boston, Houston, Portland, Los Angeles, Seattle, Olympia, Baltimore e Washington D.C., para festejar seu aniversário e abrir uma nova etapa na batalha por sua vida e liberdade.

Conta-nos que existem dezenas de milhares de presos advogados nas prisões dos Estados Unidos. Pouco conhecidos no mundo fora dos muros, são homens e mulheres que demandam seus próprios casos, defendem outros presos ou levantam ações para efetuar mudanças nas condições das prisões. Com agudeza, respeito, empatia e humor, Mumia apresenta as palavras e vivências de uma trintena deles, alguns que ele conheceu pessoalmente nas prisões da Pensilvânia e outros que lhe têm enviado cartas ou respostas a suas pesquisas. A maioria, batalha em terreno alienígena, porque não tiveram estudos formais em Direito antes de ingressar na prisão; são autodidatas e têm aprendido a lei sob a tutoria de outros presos com mais experiência.

Diz Mumia: “Não se tem se esquecido de lutar. Não se tem se esquecido de resistir. Não se tem se esquecido de ajudar aos demais, em muitos casos as pessoas mais indefesas. E não se tem se esquecido de ganhar... Algumas destas pessoas têm salvado a vida de outras, literalmente. Outras têm mudado as regras do jogo”. Para agradecer-lhes seus serviços em proteger a Constituição, as autoridades freqüentemente castigam estes advogados mais que a qualquer outro grupo de presos.

Neste livro, conhecemos Steve Evans, que estudou direito por conta própria e ensinou muitos outros presos como disputar um caso – a todos, menos os informantes e violadores de crianças. Seu aluno Warren Henderson teve que aprender a ler na prisão, antes de estudar Direito, mas tão grande era sua paixão para a leitura que roubou centenas de livros para realizar seu sonho de organizar uma biblioteca em seu bairro ao sair da prisão, e em várias ocasiões teve êxito em defender-se. Midge DeLuca, que sofria de câncer, decidiu ajudar as outras presas doentes depois de ler uma linha de sua poetisa favorita, Audre Lorde: “Só nossos silêncios nos lastimarão”.

Também tomamos conhecimento de vários rebeldes, revolucionários e presos políticos, inclusive os integrantes e simpatizantes da organização MOVE, que desafiaram a autoridade dos Tribunais rotundamente em uma longa série de julgamentos; Rashaan Brooks-Bey, organizador de greves e outras ações pelos direitos dos presos, que junto com seus companheiros Russell Maroon Shoatz, Robert Joyner e Kareem Howard, enfrentaram o juiz diretamente e exigiram a prisão dos policiais; Martin Sostre, o legendário organizador da livraria Afro-Asiática em Buffalo, NY, que influenciou no pensamento de muitos outros presos; Iron Thunderhorse, batalhador incansável pelos direitos dos presos, agora, cego; e Ed Mead, originalmente um preso social que se tornou ativista pelos direitos dos presos, depois integrante da Brigada George Jackson e co-fundador da Prison Legal News.

Diante do desprezo dos juízes e promotores, da extrema falta de recursos, e da apatia pública, os advogados, desde a prisão, freqüentemente perdem seus casos, mas também tem alcançado impressionantes vitórias.

-- No estado da Pensilvânia, Richard Mayberry começou suas batalhas para se auto-representar em meados dos anos 60, e apesar dos duros castigos em função disso, teve que ultrapassar alguns obstáculos para fazê-lo. Também ganhou uma causa em 1978, que resultou em drásticas mudanças nas prisões de vários estados no campo da saúde, superlotação e banimento de castigos, como as “jaulas de vidro”, entre muitas outras coisas.

-- Em 1971, David Ruiz levantou uma ação contra o sistema carcerário do estado do Texas, operado como uma plantação de escravos, que resultou em extensas reformas ordenadas pelo juiz William Wayne Justice.

-- Na Pensilvânia no princípio dos anos 80, uma ação apresentada por Rashaan Brooks-Bey de parte de todos os presos conseguiu que uma unidade repressiva fosse fechada na prisão de Pittsburgh. Os presos ganharam duas horas de exercício ao ar livre em lugar de quinze minutos, serviço de lavanderia, tampas para as bandejas de comida, e uma proibição da prática de desnudá-los quatro vezes a cada vez que recebessem visitas.

-- No estado da Califórnia, Jane Dorotik moveu apelações que resultaram na liberdade de um bom número de mulheres falsamente presas na penitenciária de Chowchilla. Seu caso está destacado em um capítulo dedicado ao trabalho de várias presas advogadas ante o tremendo aumento de encarceramento de mulheres, 300% em anos recentes.

-- Barry “Running Bear” Gibbs (o Osso) conseguiu que sua própria sentença de morte fosse revogada, igualmente as de outros dois presos. Recorda-se de como se sentiu quando um dos jovens lhe contou as boas noticias. Disse Osso: “Salvar a vida de alguém por meio de tinta e papel é uma experiência gratificante e inesquecível”.

-- A vergonhosa condenação de 9 dos integrantes da organização MOVE, desde 30 a 100 anos de prisão em 1978, foi seguida por una assombrosa vitória para a organização em 1981, quando Mo e John África se defenderam com êxito contra acusações de posse de armas e explosivos. Suas táticas pouco comuns incluíram uma intimação a seus 9 companheiros presos para dar depoimentos sobre os propósitos de sua luta, o bom caráter de John África e a traição das testemunhas de acusação, mais um discurso final de John África sobre a beleza e a sobrevivência da Mãe Terra. O jurado, com lágrimas nos olhos, os inocentou completamente.

--Uns meses depois, o simpatizante do MOVE, Abdul Jon, conseguiu a revogação temporária das acusações de agressão com lesões contra ele, Jeanette e Theresa África, quando foram eles os que sofreram uma brutal agressão da polícia. Seus argumentos sinceros e lógicos tornaram risíveis os altissonantes (e falsos) argumentos da promotoria. Ainda que fosse uma vitória menor, conta Mumia, dá o sabor da longa série de processos contra o MOVE.

Mumia assinala a ironia de que ainda que John África fosse absolvido por um jurado da posse de armas e explosivos, ele foi assassinado em 13 de maio de 1985, junto com Theresa África e outros 9 integrantes do MOVE, com explosivos obtidos ilegalmente pelo governo dos Estados Unidos para bombardear a casa coletiva do MOVE. Sem dúvida, nenhum agente local ou federal foi julgado pelo crime. A única pessoa acusada, julgada e condenada a 7 anos por “incitar um motím” foi Ramona África, que “se atreveu a sobreviver a matança.” Se não houvesse movido seu próprio caso, provavelmente teria passado muitos anos mais na prisão, dadas todas as acusações iniciais contra ela.

Para Mumia, não cabe dúvidas de que, ao fim e ao cabo, a lei é o que diz o juiz. Em um capítulo interessante, explora várias definições da lei, inclusive a do homem conhecido como “o avatar do capitalismo ocidental”, Adan Smith: “A lei e os governos podem se considerar... como uma combinação dos ricos para oprimir aos pobres para conservar para eles a desigualdade dos bens, os quais de outra maneira estariam destruídos pelos assaltos dos pobres, aqueles, que se não fossem impedidos pelo governo, muito rapidamente reduziriam aos demais a uma igualdade com eles através da violência aberta”.

Sem dúvida, para os presos, a lei não é uma teoria ou uma idéia, porque vivem a brutal realidade. Alem disso, os que conhecem a história afro-americana nos Estados Unidos sabem que milhões de pessoas foram escravizadas legalmente. Houve leis distintas para os Africanos chamadas “Códigos de Escravos”, os quais reapareceram depois da Guerra Civil como “Códigos Negros” que penalizaram condutas como a vagabundagem, posse de armas, ausência de trabalho, gestos ou atos insultantes. Mumia sustenta que precisamente porque os advogados, desde a prisão, haviam desafiado a utilização da lei como instrumento de dominação, o ex-presidente Bill Clinton, em 1996, efetivou a aprovação de uma lei que limita os direitos dos presos para encaminhar apelações ou ações, e proíbe as indenizações punitivas por danos e prejuízos psicológicos ou mentais, em violação da Convenção Contra a Tortura. Aos “Códigos de Escravos” e aos “Códigos Negros”, comenta Mumia, se somam agora os “Códigos de Prisão”.

Naturalmente, o livro revela muitos aspectos das condições nas prisões dos Estados Unidos, inclusive a tortura praticada ali: “O que milhões de pessoas vimos nas reflexões espeluzantes do Iraque não era outra coisa que uma edição exterior da realidade das prisões estadunidenses: lugares de tortura, humilhação e abuso -práticas exportadas dos infernos domésticos deste país a outros no estrangeiro”.

Em que se distinguem os advogados licenciados em Direito e os advogados da prisão? O conservadorismo inerente a profissão, explica Mumia, se remonta aos dias quando os licenciados eram vistos como instrumentos da Coroa Britânica que só trabalhavam para os ricos. “Dos 56 homens que firmaram a Declaração de Independência (nenhuma mulher assinou) em 1776, 29 deles, ou aproximadamente 52 por cento, eram advogados ou juízes. Estabeleceram uma estrutura legal que protegia a propriedade, mas que depreciava a liberdade -pelo menos a liberdade do povo africano escravizado. Os advogados trouxeram com eles uma sensibilidade que está no coração da profissão, um conservadorismo inato”. De fato, os três primeiros presidentes de Estados Unidos eram aristocratas, ainda que sem título, e donos de escravos. “Estabeleceram uma estrutura legal para proteger a riqueza e o privilégio de sua classe”.

Hoje em dia quando os advogados se apresentam, não são “oficiais da comunidade”, se não “oficiais da corte”. Sua lealdade não é ao acusado se não “a corte, ao banco, ao trono civil”. Isto explica, em parte, a grande distância entre o licenciado e seu cliente e a falta de confiança que o cliente lhe tem. É quase impossível que uma pessoa pobre tenha um bom advogado e ainda más difícil quando o acusado não seja branco.

Os advogados desde a prisão, sem dúvida, têm uma relação diferente com o Estado. Em uns casos, até os advogados muito progressistas têm tomado o lado do Estado contra eles. Esclarece Mumia que em meio a histeria pós 9/11 sobre o anthrax, vários estados aprovaram leis que permitiram ao Estado abrir correio legal sem contar com a presença dos presos, em violação da Primeira Emenda da Constituição. A medida foi negociada com o apoio da liberal União Americana de Liberdades Civis (ACLU), mas, por fim, revogada graças aos duros esforços de três advogados desde a prisão -Derrick Dale Fontroy, Theodore Savage, e Aaron C. Wheeler. Por outro lado, é raro que os advogados desde a prisão negociem um caso. Não têm lealdade à corte, não são licenciados, e não têm ninguém a quem vender-se. Não são parte do “clube”.

Com todo o apreço que Mumia têm aos advogados retratados neste livro, ele também assinala os limites de seus esforços. Aos finais dos anos 70, Delbert África lhe havia avisado de uma perigosa armadilha. Explicou-lhe que o problema reside em que muitos destes presos estudam a lei, acreditam na lei, acreditam que se aplica a eles, e quando se dão conta que o Sistema não segue suas próprias leis, que, ao contrário, a lei se faz e se rompe de acordo com o desejo dos juízes, enlouquecem.

Mumia afirma haver conhecido uns presos que enlouqueceram precisamente por esta razão. Também conheceu uns que tem abusado dos presos que representam. Sem dúvida, o limite mais forte que ele assinala é a insuficiência de seus bons esforços para conseguirem mudanças fundamentais no sistema carcerário. Para acabar com este sistema, qualquer esforço para utilizar a lei contra o poder têm que ser parte de amplos movimentos dentro e fora das prisões para transformar a sociedade.

Humilde, como sempre, Mumia apenas menciona seus próprios esforços como advogado autodidata que tem ajudado a outros presos a sair da prisão. Um deles é Harold Wilson, que escolheu o nome Amin e agora participa na campanha para libertar Mumia Abu-Jamal. Foi um dos convidados a falar no evento de 24 de abril passado na cidade de Nova York.

Este livro de Mumia Abu-Jamal está em promoção na citylights.com, por $11,87.

Tradução > Juvei
Fonte: ANA - Agência de Noticias Anarquistas

terça-feira, 23 de junho de 2009

O meu Rorty essencial para “Psi”

Por Paulo Ghiraldelli Jr*

1. Introdução

Richard Rorty nasceu em Nova York em 1930 e faleceu recentemente, em 2007. Sua obra é essencialmente filosófica. Sua formação foi mais em história da filosofia que em filosofia analítica. A formação em filosofia analítica foi posterior, já como professor. Quando publicou A Filosofia e o espelho da natureza (1979), após vários “papers” com relativo êxito e tendo sido o organizador da coleção denominada de Linguistic Turn, ele foi visto ao menos de duas maneiras pelos críticos, na Europa e nos Estados Unidos.

Na Europa, no meio filosófico, ele apareceu como “um filósofo da tradição analítica que estaria rompendo com essa tradição”, mas que, enfim, ainda não teria voltado seus olhos para o que seria o caminho correto – o da “confiança na razão”. Habermas o tomou assim em um primeiro momento.

Nos Estados Unidos, não no meio filosófico (e até mesmo neste meio (!)), Rorty foi visto, no início, como um filósofo que estava fazendo ressurgir o pragmatismo, mas renegando o que Dewey teria de bom, pois estaria cedendo “às loucuras pós-modernas de europeus” ou de “pessoas dos departamentos de letras”.

Ao final da vida essas críticas tinham ficado no passado. Habermas se tornou seu amigo e, de certo modo, alguém que modificou sua própria filosofia pelo diálogo com Rorty. Derrida ganhou uma vida nova na América por conta da leitura de Rorty. A filosofia pragmatista voltou a ser lida no mundo por esforço e genialidade de Rorty.

Sua doutrina foi original e bela e pode ser colocada em torno de três idéias: 1) não é a filosofia que fundamenta a democracia, mas é esta que possibilita a filosofia; 2) se cuidarmos da liberdade, a verdade cuidará de si mesma; 3) se pudermos fazer filosofia, que ela seja para nos fazer criar algo novo de modo que possamos ser no futuro “versões melhores de nós mesmos“, antes que uma disciplina presa a coisas como “quem somos?”.

A primeira questão nos leva a discussões entre metafísica e filosofia social. A segunda nos leva às questões sociais e políticas, mas permite vermos o tema da verdade que é inerente à metafísica, epistemologia e lógica, conforme o que queremos enfocar nesse tema. A terceira questão é a mais útil para o “campo psi”, e é nessa área que Rorty mostra sua modificação da noção de subjetividade. É segundo esta terceira linha que temos o leito do artigo que segue.

-para continuar lendo aqui

* PGJr é filósofo

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A República dos Bons Sentimentos - Michel Maffesoli

Na próxima quarta-feira, 24, uma palestra com o autor e sociólogo francês Michel Maffesoli marca o lançamento de mais um livro da série Os Livros do Observatório. A República dos Bons Sentimentos apresenta uma crítica ao pensamento atual, conformado com as idéias obsoletas do passado e propõe novas rotas aos que se aventuram no campo da política cultural.

Não perca o encontro com o autor!

As publicações da série Os Livros do Observatório são voltadas para títulos sobre os fenômenos contemporâneos da cultura.

A República dos Bons Sentimentos

quarta 24 de junho de 2009
20h palestra com o autor e lançamento de livro

entrada franca - senha distribuída com meia hora de antecedência

Sala Vermelha - Itaú Cultural | Avenida Paulista 149 - Paraíso - São Paulo SP [próximo à estação Brigadeiro do metrô]
informações 11 2168 1777 | www.itaucultural.org.br

sábado, 20 de junho de 2009

LASA deve desculpas e explicações

por Idelber Avelar*

A Latin American Studies Association deve um pedido de desculpas à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. É provável que o conteúdo deste post não tenha interesse para a maioria dos leitores do blog e o dito aqui seria mais eficientemente expresso numa carta à direção da LASA. Opto pelo post, ao invés da carta, por dois motivos. Em primeiro lugar, porque não tenho a menor esperança de que a LASA reforme seus hábitos neocoloniais e, para ser honesto, interessa-me muito pouco o que pensa sua direção. Em segundo lugar, talvez valha a pena divulgar algo sobre os bastidores e as caixas-pretas das associações profissionais acadêmicas.

Qual o motivo da indignação? Cheguei ao Campus da Gávea na quinta-feira e vi algo que nunca havia visto em vinte anos de vida profissional e participações em congressos acadêmicos de todo tipo. A LASA havia contratado uma firma de segurança, com dezenas de meganhas engravatados, para policiar as portas das salas de aula e impedir a entrada de não-inscritos. A grande maioria dos não-inscritos que poderiam ter interesse em assistir o congresso eram, claro, pessoas daqui do Rio de Janeiro, especialmente alunos da PUC, que estava hospedando o congresso da LASA sem receber, para isso, nem um centavo.

Agora vejam a falta de noção: como é possível que uma associação gringa de estudos latino-americanos traga seu congresso para o Brasil e enfie dentro de um campus universitário uma legião de meganhas de uma firma de segurança privada sem perceber a significação simbólica disso num país como este? O que eles imaginavam? Que a favela ia descer em peso e ameaçar o congresso? Não há nada mais alheio à América Latina do que as associações gringas de estudos latino-americanos. Não aprendem. Não adianta.

Os pobres meganhas, engravatados, zanzavam como zumbis, sem ter muita ideia de onde se encontravam e de qual era a sua função, a não ser policiar os crachás pendurados nos cangotes dos congressistas. Força de segurança na porta de sala de aula. Foi vergonhoso, embaraçoso, constrangedor. Como é possível que uma associação gringa, num congresso realizado no Brasil e intitulado “Repensando as desigualdades”, possa fazer algo assim ser se dar conta da ironia implícita? Qual é realmente o grande prejuízo em deixar que as pessoas da comunidade entrem numa sala de aula e escutem uma palestra? Será que a LASA não percebe que está na contramão da história? Será que não percebe que a informação quer ser livre?

O caso passou a me interessar e acabei dando uma pesquisada. Vamos aos números.

A inscrição para o congresso da LASA custava US $240,00 para não-membros. Pelo câmbio de hoje, isso dá R$ 468,00. Se algum gringo sem noção da LASA estiver me lendo, saiba que isso representa, no Brasil, mais de um salário mínimo mensal. A LASA hospedou seu congresso, com milhares de associados, no campus da PUC-RJ sem pagar-lhe um centavo. Pagou as horas extra dos funcionários da PUC que trabalharam no congresso, mais nada. É verdade que a LASA oferece bolsas de viagem para alguns associados latino-americanos, mas esses gastos são amplamente cobertos por um fundo que advém de doações. Não seria decente que uma associação gringa multimilionária contribuísse em algo com o considerável aumento de custos operacionais que tem uma universidade brasileira que hospeda um congresso desse gigantismo?

Os pobres meganhas zumbis, policiais do crachá alheio, recebiam R$ 50 por um dia inteiro de trabalho, sem vale-transporte. O rapaz com o qual conversei vinha de Bangu. Deixo, para leitores que conhecem melhor que eu o sistema de transporte carioca, o cálculo de quanto esse rapaz gastou na viagem de ida e volta de Bangu para a Gávea. Limito-me a informar que a LASA calcula suas taxas em dólar e que, nos EUA, o salário mínimo é US$ 6,55 por hora. É só fazer as contas da exploração.

Fontes da Pontifícia Universidade Católica me confirmaram que:

1) Não receberam qualquer tipo de material que lhes permitisse divulgar o congresso entre a comunidade.

2) Os professores foram surpreendidos, na quarta-feira, quando a universidade ainda estava em aulas, por uma enorme força de segurança uniformizada. Estatelados, imaginaram que se tratava de uma blitz policial. Era, claro, o aparato de segurança da LASA. Bicho, é insultante demais.

3) Incontáveis propostas de mesa apresentadas por docentes da PUC foram rejeitadas. Aliás, os critérios de aprovação de mesas nesse tipo de congresso são outra caixa-preta. Não falo por interesse próprio, já que recebo muito mais convites do que sou capaz de atender. A própria LASA me convidou para organizar uma mesa neste congresso (convite que, suponho, depois deste post, terá sido o último; reitero que pra mim dá na mesma).

4) Evidentemente, todos os gastos de viagem e hospedagem – com a exceção das bolsas mencionadas, cobertas pelo fundo citado – correm por conta dos congressistas ou de suas instituições. Ora, se a LASA não pagou um centavo à PUC, se as bolsas de viagem oferecidas são cobertas por um fundo especial, se os pobres e inúteis meganhas receberam 50 mangos por dia, onde vão os 240 dólares de cada um dos milhares de congressistas? Algum dos associados que me leem tem ideia dessa caixa-preta? Não venham me falar de custos de publicação dos anais. Estamos na era da publicação barata.

A questão talvez interesse aos leitores do blog, no final das contas, por analogia com as associações profissionais brasileiras. Alguém tem realmente ideia de como funcionam, por exemplo, as finanças da OAB?

Para além da questão financeira, a LASA deve um pedido de desculpas à comunidade universitária brasileira. Não se enfia uma força especial de segurança no interior de um campus quando você está sendo hospedado. Não é possível que alguém estude a América Latina e não saiba o que isso significa. É muita falta de noção.

PS: Meu agradecimento à Pontifícia Universidade Católica pela hospitalidade.

PS 2: Obrigado, Rio de Janeiro. Obrigado. Vir aqui é renovar a alma e a alegria de viver.

PS 3: Minha palestra de daqui a pouco, no IFCS, é aberta ao público. A UFRJ não é a LASA.


*do blog www.idelberavelar.com

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Lançamento da revista de psicanálise e sociedade - A Peste


Data: 30 de junho de 2009 (3ª feira) das 19:30 às 22:00 horas

Local: TUCA (Teatro da Universidade Católica), R. Monte Alegre 1024, auditório superior (Perdizes, São Paulo – SP)

ENTRADA FRANCA

EDITORES

Raul Albino Pacheco Filho (Editor Responsável)

Fuad Kyrillos Neto (Editor Adjunto)

Christian Ingo Lenz Dunker (Editor Associado)

Vladimir Safatle (Editor Associado)


A PESTE: Revista de Psicanálise e Sociedade é um periódico científico semestral temático, com o objetivo de publicar investigações/ desenvolvimentos teóricos, relatos de pesquisas, debates, entrevistas e resenhas que contenham análises, críticas e reflexões sobre temas, fatos e questões sociais, a partir do referencial psicanalítico.Publica também artigos voltados à interlocução entre a Psicanálise e outros campos do saber, como a Filosofia e as Ciências Sociais, igualmente dedicados ao pensamento sobre a sociedade e a cultura.

A PESTE: Revista de Psicanálise e Sociedade é uma publicação do Núcleo de Pesquisa Psicanálise e Sociedade do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social da PUCSP (instituição responsável), em parceria com o Laboratório de Estudos em Teoria Social, Filosofia e Psicanálise – LATESFIP/USP –, vinculado ao Departamento de Filosofia e ao Instituto de Psicologia da USP (instituição parceira).


Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social
Núcleo de Pesquisa Psicanálise e Sociedade

Universidade de São Paulo

Departamento de Filosofia e Instituto de Psicologia
LATESFIP – USP

Conselho Editorial-Científico


Ana Cristina Figueiredo

Universidade Federal do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro)

Ana Laura Prates Pacheco

Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano – Fórum de São Paulo (São Paulo)

Alberto Olavo Advincula Reis

Universidade de São Paulo (São Paulo)

Ángel Gordo-López

Universidad Complutense de Madrid (Espanha)

Antonio Quinet

Universidade Veiga de Almeida (Rio de Janeiro)

Antonio Teixeira

Universidade Federal de Minas Gerais (Minas Gerais)

Caterina Koltai

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (São Paulo)

Cláudio Oliveira

Universidade Federal Fluminense (Rio de Janeiro)

Conrado Ramos

Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano – Fórum de São Paulo (São Paulo)

Dominique Fingermann

Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano – Fórum de São Paulo (São Paulo)

Edson Luiz André de Sousa

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Rio Grande do Sul)

Gabriel Lombardi

Universidad de Buenos Aires (Argentina)

Graciela Haydée Barbero

Universidade Federal de Mato Grosso (Mato Grosso)

Ian Parker

Manchester Metropolitan University (Inglaterra)

Jeferson Machado Pinto

Universidade Federal de Minas Gerais (Minas Gerais)

Luis Guilherme Mola

Universidade São Judas Tadeu (São Paulo)

Maria Rita Bicalho Kehl

Associação Psicanalítica de Porto Alegre (Rio Grande do Sul)

Mário Eduardo Costa Pereira

Universidade Estadual de Campinas (São Paulo)

Nelson Silva Junior

Universidade de São Paulo (São Paulo)

Néstor A. Braunstein

Universidad Nacional Autónoma de México (México)

Oscar Angel Cesarotto

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (São Paulo)

Paulo Arantes

Universidade de São Paulo (São Paulo)

Philippe Van Haute

Radboud Universiteit Nijmegen (Holanda)

Sandra Dias

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (São Paulo)

Sidi Askofaré

Université Toulouse 2 Le Mirail (França)

Sonia Alberti
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro)

Correspondência e assinaturas

A PESTE: Revista de Psicanálise e Sociedade

Rua Ministro Godói, 969, sala 4E-10 (4º andar)

05015-901 – São Paulo – SP

Fone: (11) 3670-8520
E-mail: revistaapeste@pucsp.br

quinta-feira, 18 de junho de 2009

terça-feira, 16 de junho de 2009

CICLO DE VÍDEO-DEBATES: EDUCAÇÃO E ANARQUISMO


Biblioteca Terra Livre e Espaço Ay Carmela! convidam:

CICLO DE VÍDEO-DEBATES: EDUCAÇÃO E ANARQUISMO

CARTAZ: http://g.imagehost.org/0371/cartazcicloeducacao.jpg

***

17/06 – QUARTA – 19h

A LÍNGUA DAS MARIPOSAS (Espanha, 1999, DVD, color, 96 min). Direção: José Luís Cuerda

O mundo de Mocho vivia em paz até o início da Guerra Civil Espanhola. É seu primeiro ano na escola, ele gosta do professor e encontra um novo amigo, Roque. Em uma viagem com a banda de seu irmão, Mocho descobre o que acontece em seu país. Rebeldes fascistas abrem fogo contra o regime republicano e o povo se divide. O pai e o professor do menino são republicanos, mas os rebeldes ganham força, virando a vida do garoto de pernas para o ar.

***

24/06 – QUARTA – 19h

FRANCISCO FERRER I GUARDIA: uma vida para a liberdade (Espanha, 2003, DVD, p&b
e color, 51 min). Direção: Agustí Corominas i Casals. Produção: TV3 català

Documentário sobre a vida e obra de Francisco Ferre i Guardia, mestre anarquista fundador da Escola Moderna e teórico das escolas racionalistas. Há entrevistas com ex-alunos e muitas informações sobre a construção de uma nova concepção de educação na Espanha no início do século XX.

ESCOLAS MODERNAS: educação anarquista na São Paulo no início do século XX (São Paulo, 1995, S-VHS, p&b e color, 20 min). Produção: Coletivo Cinestesia
- http://www.geocities.com/cinestesia/

Documentário sobre os projetos educacionais dos operários anarquistas da cidade de São Paulo no início do século XX, como alternativa à educação oferecida pelo Estado, pelas classes dominantes e pela Igreja.

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ESPAÇO AY CARMELA!
Rua dos Carmelitas, 140 – Sé – São Paulo
telefone: 55 11 3104 4330
e-mail: ay-carmela@riseup.net
site: http://ay-carmela.birosca.org

***

Como Chegar?

A pé/bicicleta/ônibus/metrô:
Partindo da Praça da Sé dirija-se à saída do Metrô Sé próxima ao Poupatempo, nas proximidades do Corpo de Bombeiros; Siga pela Rua do Carmo; entre na primeira rua à esquerda – Rua Joaquim S. de Andrade; No final dobreà direita, aí já é a Rua dos Carmelitas.

De carro/moto/bicicleta:
Na Praça da Sé desça a Avenida Rangel Pestana; No farol antes do viaduto entre à direita e logo à direita de novo numa ruazinha bem curta; No final dobre à esquerda e na bifurcação à direita; Já é a Rua dos Carmelitas.