quarta-feira, 29 de julho de 2009

Seminário

CENTRO DE CULTURA SOCIAL

convida para o seminário:

Proudhon entre nós

Em comemoração do bicentenário de seu nascimento (1809-2009)

É espantoso que se conheça do pensamento proudhoniano pouco além do slogan “a propriedade é o roubo!” Não obstante ter recebido de Marx o enfático elogio que o celebrou “como o pensador francês mais arrojado” e conferiu à sua obra O que é a Propriedade? a mesma importância atribuída à obra de Sièyès, O que é o Terceiro Estado?, Proudhon permaneceu historicamente um célebre desconhecido.

Até a 1ª Internacional e a Comuna de Paris, Proudhon exerce forte influência sobre os operários, artesãos e communards; mas em seguida é vencido pelo bakuninismo. Bakunin legou para a posteridade a leitura hegeliana que classificou Proudhon de “pré-anarquista” e que qualificou seu pensamento de metafísico e desprovido da cientificidade exigida pela revolução. Face ao revolucionarismo bakuninista, Proudhon é retratado como a criança rebelde do socialismo.

Foi com o declínio do hegelianismo e com a ressurgência de Nietzsche, a partir dos anos 1990, que um forte interesse renovado pela obra de Proudhon se fez presente, nutrido sobretudo pelas filosofias de Foucault e Deleuze. Esta retomada de Proudhon reflete uma renovação sem precedentes do próprio anarquismo, restituindo a força da sua crítica na atualidade e estabelecendo novos percursos de estudos. É neste contexto de redescoberta e renovação da obra de um dos autores seminais da anarquia que o CCS propõe neste seminário pensar sua atualidade no ano de seu bicentenário; dando continuidade, com isso, ao ciclo de estudos iniciados em 2008 com as Oficinas Libertárias: Proudhon.

Nildo Avelino

coordenação

Programa:

12/09/2009, abertura:

Proudhon nas dobras do milênio, com Paulo-Edgar Almeida Resende (Doutor em Ciência Política, professor na Faculdade e no Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP onde é coordenador do Núcleo de Análise de Conjuntura Internacional (NACI), co-organizador, juntamente com Edson Passetti, do volume Proudhon – Coleção Grandes Cientistas Sociais [São Paulo: editora Ática, 1994]).

19/09/2009:

A miséria ou o antifilosófico em Proudhon, com Edson Lopes (Mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, autor de Política e Segurança Pública: uma vontade de sujeição [Rio de Janeiro: editora Revan, no prelo], integrante do CCS).

26/09/2009:

Anarquia, num encontro com Proudhon e Deleuze, com Natalia Montebello (Doutoranda em Ciência Política pela PUC-SP, professora na ESPM, integrante do CCS).

17/10/2009:

Proudhon, Foucault e a (an)arqueologia dos saberes, com Nildo Avelino (Doutor em Ciência Política pela PUC-SP, autor de Anarquistas: ética e antologia de existências [Rio de Janeiro: Achiamé editor, 2004], integrante do CCS).

24/10/2009, encerramento:

Proudhon e a (pós)modernidade: reflexões im-pertinentes, com Jacy Seixas (Doutora em História, professora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em História da UFU-MG, autora de Mémoire et oubli: l'Anarchisme et le Syndicalisme Révolutionnaire au Brésil [Paris: éditions de la Maison des Sciences de l'Homme, 1992], integrante do CCS).

Realização:

Centro de Cultura Social de São Paulo

Rua Gal. Jardim n.º 253 – sala 22 (metrô república)

www.ccssp.org

ccssp@ccssp.org

terça-feira, 28 de julho de 2009

Encontro

IX ENCONTRO NACIONAL DE USUÁRIOS E FAMILIARES DA LUTA ANTIMANICOMIAL (ENUFA) E

VIII ENCONTRO NACIONAL DA LUTA ANTIMANICOMIAL (ENALA)

DE 4 a 7 de SETEMBRO de 2009

REGIÃO DO GRANDE ABC-SP

Inscrições Abertas!

Faça aqui a inscrição:
http://www.osdevolt aparacasa. org.br/

Veja a programação

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Formas de ver e ouvir

Vamos tentando manter as possibilidades de divulgar o que é bom, bonito e barato, ops... crítico por aqui. O debate sobre o sintagma identidade-metamorfose-emancipação extrapola os limites da acadêmia e tenta estar onde as pessoas estão, nos interessa sempre o conhecimento que atua nas relações, na força das idéias que se realizam. Venham de onde vierem. Nessa direção vamos aprendendo sobre tendencias e confrontos da arte e da música, diferentes e novas formas de ver e ouvir. Graf Jazz de alguns modos nos oferece isso.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Novo Livro sobre Metodologia para Projetos de Extensão

O livro (e_book) resultado do 6o. SEMPE (ago.2008) está disponível gratuitamente no Site da PROEX/UFSCar
http://www.proex.ufscar.br/sempe/Livro.pdf

Título: Metodologia para Projetos de Extensão.
Apresentação e discussão

Organizadores: Targino de Araujo Filho & Thiollent Michel

Tamanho : 666 páginas

Data: 2009

terça-feira, 21 de julho de 2009

III Jornada Brasileira de Cinema Silencioso

De 7 a 16 de agosto próximo será realizada, na Cinemateca Brasileira, a terceira edição da Jornada Brasileira de Cinema Silencioso, evento que se integrou definitivamente ao calendário cultural da cidade e do país.

Como nas edições anteriores, uma cinematografia nacional do período silencioso será privilegiada, de forma a destacar os trabalhos dos arquivos de filme de um determinado país. Nesta terceira edição, aliando-se às manifestações relativas ao Ano da França no Brasil, a III Jornada receberá o cinema silencioso francês através da contribuição vinda dos Arquivos Franceses do Filme/Centro Nacional de Cinematografia, da Cinemateca Francesa e dos Arquivos Albert Kahn.

Entre os destaques da mostra francesa, uma coleção dos primeiros trabalhos dos irmãos Lumière, inventores do cinema na França, documentários curtos sobre a Córsega, a Tunísia, a Abissínia, e filmes de longa metragem – comédias, romances e filmes policiais da década de 1920 em cópias maravilhosamente tingidas, como se usava na época. Entre as grandes realizações artísticas, as atrações ficam por conta de L'homme du large / O homem do mar (1920) e de Maldone (1928), realizados respectivamente por Marcel L’Herbier e Jean Grémillon, cineastas marcantes da vanguarda cinematográfica francesa. Salammbo (Pierre Marodon, 1925), filme histórico de grande espetáculo, adaptado do romance de Gustave Flaubert, encerrará a Jornada. Ainda como parte da mostra francesa, será apresentado, na Sala São Paulo, de 13 a 16, o filme Études sur Paris, realizado por André Sauvage em 1928, com partitura original para grande orquestra composta especialmente por um de nossos maiores músicos eruditos contemporâneos, José Antônio de Almeida Prado.

Contribuição também a esta seção será uma coletânea de filmes da produtora Gaumont, restaurada pela Cinemateca da Suécia, com várias realizações de Alice Guy, primeira diretora de cinema do mundo.

A conferência inaugural da III Jornada ficará a cargo de Caroline Patte, pesquisadora do Centro Nacional de Cinematografia, que abordará o cinema silencioso francês conhecido e preservado até os dias de hoje.

Três conferências serão proferidas por Isabelle Marinone, pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados do Collegium de Lyon e professora da Universidade Paris 3 – Sorbonne Nouvelle, que falará sobre as relações entre Anarquismo e cinema na França, tema de sua tese de doutorado. Articuladas ao curso dado por Isabelle Marinone, serão feitas algumas projeções de filmes realizados pela cooperativa Cinéma du Peuple, primeira organização anarquista ligada à produção de filmes para a divulgação de idéias libertárias entre a classe operária. Serão exibidos La Commune / A Comuna (Armand Guerra, 1914), Les misères de l’aiguille / As misérias da agulha (Raphael Clamour, 1914) e fragmentos de Le Vieux docker / O velho doqueiro (Armand Guerra, 1914); além de Manifestations en faveur de Sacco et Vanzetti (1921 e 1927, de Le Saint e Sauvageot respectivamente) e La Terroriste / A Terrorista (produção da Pathé de 1907). Será lançada durante a Jornada uma edição de parte da tese de Isabelle Marinone sobre Anarquismo e cinema, especialmente preparada pela autora para o Brasil.

A seção brasileira da III Jornada será dedicada aos filmes de expedição à Amazônia feitos nas primeiras décadas do século XX. Dois grandes documentaristas do período no Brasil, Silvino Santos e Thomaz Reis terão sessões especiais. Será também exibido, pela primeira vez no Brasil, o filme The River of Doubt / O Rio da Dúvida, sobre a expedição realizada em 1914 pelo ex-presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt, em companhia do então coronel Cândido Rondon. Este filme virá especialmente da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, e será feita uma cópia que permanecerá no Brasil tendo em vista que esse filme não possui nenhum material em nosso país.

Para a seção permanente da Jornada Brasileira de Cinema Silencioso dedicada à Giornate del Cinema Muto, de Pordenone – a maior manifestação cinematográfica mundial dedicada ao cinema silencioso – o comitê diretor desse evento (que este ano alcança sua edição de número 28) selecionou duas divertidíssimas comédias americanas, The Patsy / Filhinha querida (King Vidor, 1928), estrelada por Marion Davies, e Exit smiling / Doce amargura (Sam Taylor, 1926), estrelada por Beatrice Lillie. Destaques femininos também são de grande importância no filme canadense Back to God’s country / De volta à terra de Deus (David Hartford, 1919), produzido e estrelado por Nell Shipman, primeira atriz a dedicar praticamente sua vida toda a questões ecológicas, e no filme chinês Tianming / Amanhecer (Sun Yu, 1933), estrelado pela diva Li-li Li. A seleção de Pordenone ficará completa com a exibição do primeiro filme longo antimilitarista do mundo Maudite soit la guerre! / Maldita seja a guerra! (Alfred Machin, 1914), com extraordinárias pesquisas sobre o uso dramático da cor no cinema.

No programa Janela para a América Latina será exibido El Húsar de la muerte / O hússar da morte (Pedro Sienna, 1925), cedido pela Cinemateca Nacional do Chile, o maior sucesso do cinema silencioso chileno, que narra de forma irônica e divertida as peripécias de Manuel Rodrigues, figura quase folclórica ligada a episódios do período revolucionário de independência do país.

A Jornada Brasileira de Cinema Silencioso terá a satisfação de exibir um filme silencioso realizado em 2006 pela Winsconsin Bioscope: A expedição brasileira de 1916, que reconstitui a viagem à lua de alguns aeronautas pátrios.

Graças à colaboração do Instituto Cervantes de São Paulo, o premiado músico e pianista catalão Jordi Sabatès apresentará um programa especial dedicado às obras de animação, ilusionismo, experimentais e cômicas do cineasta Segundo de Chomón.

Em comemoração ao centenário de nascimento da atriz brasileira (nascida no Egito) Eva Nil, destaque na concepção das peças gráficas da III Jornada, será realizada a pré-estréia do curta-metragem Eva Nil, cem anos sem filmes, de João Marcos Almeida.

Com curadoria geral de Carlos Roberto de Souza, uma das preocupações da Jornada é atualizar o espetáculo cinematográfico das primeiras décadas do século XX, permitindo ao público contemporâneo conhecer significativas obras do passado, despindo esse contato de qualquer forma de saudosismo. A curadoria musical da III Jornada Brasileira de Cinema Silencioso estará novamente sob a responsabilidade de Livio Tragtenberg e, entre alguns músicos participantes, estarão Marlui Miranda, Felipe Julian, Leo Cavalcanti, Antonio Eduardo, Ordinária Hit, Marco Scarassati, Duo Portal, Carlos Careqa, Carlinhos Antunes, Gisela Muller, Felipe Caramuru e Lucila Tragtenberg. Uma das concepções desenvolvidas para o tratamento sonoro desse ano foi o uso de narrações e falas sincronizadas aos filmes.

Veja a programação aqui

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Evolving Minds

Esse pequeno documentário nos oferece alguns reflexões interessantes sobre construção da realidade, psicose, espiritualidade, alimentação e alternativas ao sistema de saúde mental na Inglaterra.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O Pensamento Socialista Libertário de Noam Chomsky

Por Felipe Corrêa

Por razão de o renomado intelectual Noam Chomsky defender, desde a década de 1970, os princípios do socialismo libertário, achamos por bem escrever esse artigo, cujo objetivo está na análise da relação de seu pensamento – uma constante busca de transformação social – com o anarquismo. A tentativa de trazer as tradicionais lições dos clássicos anarquistas do final do século XIX e início do século XX para os dias de hoje, colocando-as como possíveis soluções para os problemas do mundo em que vivemos, é, em grande medida, o que nos motiva a estudar o autor e debater uma série de questões que é levantada por ele.

Chomsky ficou conhecido, principalmente, pelos seus escritos contra a política externa norte-americana e suas análises da política e da economia do mundo, o que podemos encontrar em seus Novas e Velhas Ordens Mundiais, Contendo a Democracia, O Império Americano e Ano 501: a conquista continua. Além disso, apresentou instigantes análises da forma como as corporações vêm dominando o mundo, da economia global e do movimento de resistência, em O Lucro ou as Pessoas. Fez notáveis análises dos atentados terroristas em 11 de Setembro, interessantes observações em seus escritos sobre mídia, tais como Controle da Mídia: os espetaculares feitos da propaganda e A Manipulação do Público, entre tantas outras publicações. Chomsky ficou também conhecido por razão de seus importantes livros sobre lingüística tais como Estruturas Sintáticas, Aspectos da Teoria da Sintaxe, e Lingüística Cartesiana.[1] Isso geralmente é de conhecimento daqueles que admiram e conhecem um pouco da vasta obra do autor. Muitos, no entanto, não sabem dessa defesa explícita dos princípios do socialismo libertário. Por esse motivo, achamos por bem mostrar esse “outro” Chomsky. Dizemos um outro Chomsky, e assim fizemos questão de mencionar por diversas vezes na apresentação de seu livro Notas sobre o Anarquismo[2] – cuja organização e tradução também foi fruto de nosso trabalho –, pois seus escritos sobre lingüística, política externa dos EUA, etc. são facialmente encontrados e muito conhecidos. Ao contrário, seus textos discutindo anarquismo, são pouco conhecidos e até por isso, surgiu a proposta do livro, que seria mostrar esse “novo” Chomsky. Trazer à tona textos que estavam “perdidos” em antigos periódicos anarquistas, em livros nunca traduzidos ao português e mostrar a atualidade do pensamento libertário presente em Chomsky.

Há um fator de muita importância na forma com que Chomsky apresenta seu pensamento. Sua concepção do papel dos intelectuais, muito bem exposta em seu artigo The Responsibility of Intellectuals [A Responsabilidade dos Intelectuais] de 1967, coloca sobre estes o dever de “denunciar as mentiras dos governos, analisar as ações de acordo com suas causas, seus motivos e as suas intenções, que são freqüentemente escondidas”. Para ele, o mundo ocidental daria aos intelectuais esse poder, fruto de sua liberdade política, de seu acesso à informação e de sua liberdade de expressão. Mais ainda: por constituírem uma pequena e privilegiada minoria, os intelectuais acabariam sendo beneficiados pois “a democracia ocidental proporciona o tempo disponível, as habilidades e a instrução para a busca da verdade que está escondida atrás da máscara da distorção e da falsidade, da ideologia e do interesse de classe”, fatores esses, que acabam por influenciar os fatos que chegam até nós. Chomsky constrói seu pensamento do anarquismo sobre estes mesmos alicerces. Em momento algum, coloca-se como um explorado ou um simples proletário. Seria inclusive cínico de sua parte caso o fizesse. Ele acaba por colocar-se como um intelectual privilegiado, que mora num país que proporciona a seus cidadãos condições privilegiadas e cujo conhecimento e respeito que tem, terminam por propiciar-lhe maiores liberdades. É nesse sentido que Chomsky buscará transformar as realidades do mundo, utilizando como vantagens, as condições em que está imerso.

Algo que nos admira é que, apesar de um grande e erudito intelectual com quase 50 anos de academia, Chomsky consegue fazer-se entender por exemplos simples e um palavreado altamente acessível para qualquer um que queira compreender seu pensamento. Em grande medida, pode-se atribuir também a esse motivo, a relação que tentamos estabelecer entre o pensamento de Chomsky e de Errico Malatesta, anarquista italiano cujos textos tinham, apesar de um conteúdo de grande relevância, uma forma simples, de fácil compreensão. Apesar de Malatesta nunca ser citado nos textos e entrevistas de Chomsky, parece-nos inevitável que existam alguns pontos de convergência entre os dois, tanto na forma quanto no conteúdo de seus escritos. Por ora, entretanto, cabe-nos ressaltar apenas essa similaridade – dos escritos de forma simples e com grande conteúdo –, algo que acabamos por considerar uma qualidade.

Nosso intento, ao escrever sobre o pensamento de Noam Chomsky, reflete, como já dito, um esforço na atualização das idéias anarquistas, e Chomsky, apesar de polêmico – veremos o porquê durante o texto – tem a base de suas idéias construída sobre os clássicos anarquistas. Propõe, do nosso ponto de vista, uma interessante tentativa em trazer a discussão do anarquismo para os dias de hoje. Identificamos, por isso, para a compreensão de seu pensamento e das suas relações com os princípios libertários, dez aspectos que tentarão dar conta deste assunto. No entanto, para uma compreensão mais aprofundada, sugerimos a leitura do material selecionado por nós em Notas sobre o Anarquismo. Tentaremos também, relacionar alguns autores com esses dez conceitos chomskyanos do anarquismo e do pensamento libertário.

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sábado, 11 de julho de 2009

Luta Antimanicomial

O juiz de Sobral, Marcelo Roseno de Oliveira, condenou à seis anos de prisão, as seis pessoas apontadas como responsáveis pela morte de Damião Ximenes Lopes, que estava internado na casa de repouso de Sobral.
O caso aconteceu em outubro de 1999, na Casa de Repouso Guararapes. Internado para se tratar de problemas mentais, Damião foi encontrado com as mãos amarradas, sangrando pelo ouvido e cheio de ematonas pelo corpo. O paciente morreu logo depois. A família, indignada, pediu justiça.
Foram condenados, o dono da casa de repouso, Sérgio Antunes Ferreira, os auxiliares de enfermagem, Carlos Alberto Rodrigues dos Santos, Elias Gomes Coimbra e André Tavares do Nascimento. Também, a enfermeira-chefe, Maria Salete Moraes Mesquita e o médico Francisco Ivo de Vasconcelos, que estava de plantão no dia que Damião sofreu os maus tratos. De acordo com a sentença do juiz, essas pessoas, inicialmente, cumprirão pena em regime semi-aberto.
Na época, a morte de Damião foi denunciada à corte inter-americana de direitos humanos. O Governo brasileiro foi condenado a pagar uma indenização de R$ 314 mil à familia do paciente.
A clínica foi fechada nove meses depois da morte dele. Hoje, no local, funciona uma faculdade particular.
Assista o vídeo aqui

terça-feira, 7 de julho de 2009

Resposta do Prof. Kabengele Munanga

*Manifestação do professor Kabengele Munanga acerca da matéria “Monstros tristonhos” publicada no jornal O Estado de S. Paulo de 14 maio de 2009, de autoria de Demétrio Magnoli* "Em matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo de 14 maio de 2009 (http://arquivoetc . blogspot. com/2009/ 05/demetrio- magnoli-monstros -tristonhos. html), intitulada “Monstros tristonhos”, o geógrafo Demétrio Magnoli critica e acusa agressivamente as Universidades Federais de Santa Maria (UFSM) e de São Carlos (UFSCAR) e também a mim, Kabengele Munanga, Professor do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. As duas universidades são criticadas e acusadas por terem, segundo o geógrafo, criado ”tribunais raciais” que rejeitam as matrículas de jovens mestiços que optam pelas cotas raciais. No caso da Universidade Federal de Santa Maria, trata-se apenas de Tatiana de Oliveira, cuja matrícula foi cancelada menos de um mês após o início do curso de Pedagogia.. No caso da Universidade Federal de São Carlos, trata-se do estudante Juan Felipe Gomes. O acusador acrescenta que um quarto dos candidatos aprovados na UFSCAR pelo sistema de cotas raciais neste ano de 2009 teve sua matrícula cancelada pelo “tribunal racial” dessa universidade. A questão que se põe é saber se além desses estudantes, cujas matrículas foram canceladas, outros alunos mestiços ingressaram em cerca de 70 universidades públicas que aderiram à política de cotas. Se a resposta for afirmativa, os que tiveram sua matrícula cancelada constituem casos raros ou excepcionais que mereceriam a atenção não apenas de Demétrio Magnoli, mas também de todas as pessoas que defendem a justiça e a igualdade de tratamento. Mas por que esses casos raros, que constituem uma exceção e não a regra, foram “injustiçados” pelas comissões de controle formadas nessas universidades para evitar fraudes, comissões que o sociólogo Demétrio rotula de “tribunais raciais”? Por que só eles? Por que não ocorreu o mesmo com os outros mestiços aprovados? Houve realmente injustiça racial ou erro humano na avaliação da identidade física dessas pessoas que foram simplesmente consideradas brancas e não mestiças apesar de sua autodeclaração? Os erros humanos, quando são detectados, devem ser corrigidos pelos próprios humanos, como o foi no caso dos estudantes gêmeos da UnB. As injustiças, flagrantes ou não, devem ser apuradas e julgadas pela própria justiça que, num estado democrático de direito como o Brasil, deverá prevalecer. Acho que os estudantes Tatiana de Oliveira e Juan Felipe Gomes, e tantos outros que o sociólogo menciona sem entretanto nomeá-los, devem procurar um advogado para defender seus direitos se estes tiverem sido efetivamente violados pelos chamados “tribunais raciais”. Entendo que o geógrafo Demétrio tenha pena deles, considerando a sua sensibilidade humana. Se realmente houve erro humano na verificação da identidade desses estudantes, a explicação não está na citação intencionalmente deturpada de algumas linhas extraídas de um texto introdutório de três páginas ao livro de Eneida de Almeida dos Reis, intitulado* MULATO: negro-não-negro e/ou branco-não-branco,* publicado pela Editora Altara, na Coleção Identidades, São Paulo, em 2002. Veja como é interessante a estratégia de ataque do geógrafo Demétrio Magnoli. Ele escondeu de seus leitores o título do livro de Eneida de Almeida dos Reis, assim como a casa editora e a data de sua publicação para evitar que possíveis interessados pudessem ter acesso à obra para averiguar direta e pessoalmente o fundamento das acusações. De fato, ele não disse absolutamente nada sobre o conteúdo desse livro, e passa a impressão de ter lido apenas vinte linhas do total de três páginas da introdução, a partir das quais constrói seu ensaio e sua acusação. Com sua inteligência genuína, acho que ele poderia ter feito uma pequena síntese desse livro para seus leitores; se ele o tivesse mesmo lido, entenderia que nada inventei sobre a ambivalência genética do mestiço que não estivesse presente no próprio título da obra “Mulato: negro-não-negro e/ou branco-não-branco”. Desde quando a palavra ambivalência é sinônimo de “monstro tristonho”? Estamos assistindo à invenção, pelo geógrafo, de novos verbetes dos dicionários da língua portuguesa? O livro de Eneida de Almeida dos Reis resultou de uma pesquisa para dissertação de mestrado defendida na PUC de São Paulo sob a orientação de Antonio da Costa Ciampa, Professor do Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia da PUC São Paulo. Ele foi convidado a fazer a apresentação do livro, na qualidade de professor orientador, e eu para escrever a introdução, na qualidade de ex-professor na disciplina “Teorias sobre o racismo e discursos antirracistas”, ministrada no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da USP. O livro se debruça sobre as peripécias e dificuldades vividas pelos indivíduos mestiços de brancos e negros, pejorativamente chamados mulatos, no processo de construção de sua identidade coletiva e individual, a partir de um estudo de caso clínico. É uma pena que nosso crítico acusador não tenha tido a coragem de apresentar a seus leitores o verdadeiro conteúdo desse livro, resultado de uma meticulosa pesquisa acadêmica, e não da minha fabulação. Para entender porque essas pessoas mestiças foram consideradas brancas, apesar de terem declarado sua afrodescendência, é preciso voltar ao clássico “Tanto preto quanto branco: estudos de relações raciais”, de Oracy Nogueira (São Paulo: T.A. Queiroz, 1985). Se o geógrafo Demétrio tivesse lido esse livro, acredito que teria entendido porque as pessoas brancas que possuem algumas gotas de sangue africano são consideradas pura e simplesmente negras nos Estados Unidos – apesar de exibirem uma fenotipia branca – e brancas no Brasil. Ensina Nogueira que a classificação racial brasileira é de marca ou de aparência, contrariamente à classificação anglo-saxônica que é de origem e se baseia na “pureza” do sangue. Do ponto de vista norteamericano, todos os brasileiros seriam, de acordo com as pesquisas do geneticista Sergio Danilo Pena, considerados negros ou ameríndios, pois todos possuem, em porcentagens variadas, marcadores genéticos africanos e ameríndios, além de europeus, sem dúvida. Quando essas pessoas fenotipicamente brancas e geneticamente mestiças se consideram ou são consideradas brancas no decorrer de suas vidas e assumem, repentinamente, a identidade afrodescendente para se beneficiar da política das cotas raciais, as suspeitas de fraude podem surgir. Creio que foi o que aconteceu com os alunos cujas matrículas foram canceladas na UFSM e na UFSCAR. Se não houver essa vigilância mínima, seria melhor não implementar a política de cotas raciais, porque qualquer brasileiro pode se declarar afrodescendente, partindo do pressuposto de que a África é o berço da humanidade.. Lembremo-nos de que no início dos debates sobre as cotas colocava-se a dificuldade de definir quem é negro no Brasil por causa da mestiçagem. Falsa dificuldade, porque a própria existência da discriminação racial antinegro é prova de que não é impossível identificá-lo. Senão, o policial de Guarulhos não teria assassinado o jovem dentista identificado como negro pelo cidadão branco assaltado, e os zeladores de todos os prédios do Brasil não teriam facilidade para orientar os visitantes negros a usar os elevadores de serviço. Por sua vez, as raras mulheres negras moradoras dos bairros de classe média não seriam constantemente convidadas pelas mulheres brancas, quando se encontram nos elevadores, para trabalhar como domésticas em suas casas. Existem casos duvidosos, como o dos alunos em questão, que mereceriam uma atenção desdobrada para não se cometer erros humanos, mas não houve dúvidas sobre a identidade da maioria dos estudantes negros e mestiços que ingressaram na universidade através das cotas. Bem, o geógrafo Demétrio Magnoli leva ao extremo a acusação a mim dirigida quando me considera um dos “*ícones do projeto da racialização oficial do Brasil”. *Grave acusação! Infelizmente, ele não deu nomes a outros ícones. Nomeou apenas um deles, cuja obra não leu, ou melhor, demonstra não ter lido. Mas por que só o meu nome mencionado? Porque sou o mais fraco, pelo fato de ser brasileiro naturalizado, ou o mais importante, por ter chegado ao ponto mais alto da carreira acadêmica? Isso parece incomodá-lo bastante! Um negro que chegou lá, ao topo da carreira acadêmica, numa das melhores universidades do país, mas nem por isso esse negro deixou de ser solidário, pois milita intelectualmente para que outros negros, índios e brancos pobres tenham as mesmas oportunidades. De acordo com as conclusões assinaladas no livro de Eneida de Almeida dos Reis, muitos mestiços têm dificuldades para construir sua identidade por causa da ambivalência (Mulato: negro-não-negro e/ou branco-não-branco) , dificuldades que eles teriam superado se tivessem política e ideologicamente assumido uma de suas heranças, ou seja, a sua negritude, que é o ponto nevrálgico de seu sofrimento psicológico. Se o sociólogo acusador tivesse lido este livro e refletido serenamente sobre suas conclusões, ele teria percebido que não alimento nenhum projeto ou plano de ação para suprimir a mestiçagem no Brasil. Isto só pode ser chamado de masturbação ideológica, e não de análise sociológica, nem geográfica! Como seria possível suprimir a mestiçagem, que é um fato fundamental da história da humanidade, desafiando as leis da genética e a vontade dos homens e das mulheres que sempre terão intercursos interraciais? Nem o autor do ensaio sobre as desigualdades das raças humanas, Arthur de Gobineau, chegou a acreditar nessa possibilidade. Se as leis segregacionistas do Sistema Jim Crow no Sul dos Estados Unidos e do Apartheid na África do Sul não conseguiram fazê-lo, os ícones da racialização oficial do Brasil, entre os quais nosso colega me situa, terão esse poder mágico e milagroso que ele lhes atribui? Entrando na vida privada, gostaria que o sociólogo soubesse que tenho um filho e uma neta mestiços que não são monstros tristonhos como ele pensa, pois são educados para assumir sua negritude e evitar assim os graves problemas psicológicos apontados na obra de Eneida de Almeida Dos Reis, através da indefinida personagem Maria, (ver p.39-100). Como se pode dizer que os mestiços são geneticamente ambivalentes e que política e ideologicamente não podem permanecer nessa ambivalência e ser por isso taxado de charlatão acadêmico? Creio que se trata apenas de uma reflexão que decorre das conclusões do próprio livro e que de /per si/ não constituiria nenhum charlatanismo. Não seria um contra-senso e um grave insulto à USP que esse “charlatão acadêmico” tenha chegado ao topo da carreira acadêmica? E que tenha orientado dezenas de doutores hoje professores nas grandes universidades brasileiras, como a USP, UNICAMP, UNESP, UFMG, UFF, UFRJ, Universidade Federal de Goiás, Universidade Federal de São Luiz do Maranhão, Universidade Estadual de Londrina, Universidade Candido Mendes, PUC de Campinas, etc. Creio que, salvo o geógrafo Demétrio, os que me conhecem através de textos que escrevi, de minhas aulas e de minhas participações nos debates sociais e intelectuais no país e no exterior, não me atribuiriam esse triste retrato. Disse ainda o geógrafo Demétrio que */“do ponto mais alto da carreira universitária, o antropólogo professa a crença do racismo científico, velha de mais de um século, na existência biológica de raças humanas, vestindo-a curiosamente numa linguagem decalcada da ciência genética”./ *Sinceramente, não entendo como Demétrio conseguiu tirar tanta água das pedras. Das 20 linhas extraídas, de maneira deturpada, de um texto de três páginas de introdução, ele conseguiu dizer coisas horríveis, como se tivesse lido tudo que escrevi durante minha trajetória intelectual sobre o racismo antinegro. A colonização da África, contrariamente às demais colonizações conhecidas na história da humanidade, foi justificada e legitimada por um /corpus/ teórico-cientí fico baseado nas idéias evolucionistas e racialistas produzidas na modernidade ocidental. Teria algum sentido para mim, que milito contra o racismo, professar o racismo científico para lutar contra o racismo à brasileira? Acho que nosso geógrafo quer me transformar num demente que não sou. As pessoas que leram seu texto no jornal O Estado de S. Paulo podem pensar que eu sou esse negro ex-colonizado que professa as mesmas idéias do racismo científico que postulou a inferioridade e a desumanidade dos africanos, incluída a dele mesmo. Como entender que meus alunos de Pós-graduação, a quem ensino há vinte anos “As teorias sobre o racismo e discursos antirracistas”, uma disciplina freqüentada por alunos da USP, de outras universidades e outros estados, têm a coragem de ocupar um semestre inteiro para escutar profissões de fé em favor do racismo científico? Se o geógrafo Demétrio quer saber mais sobre mim, ingressei na Faculdade em 1964, aos vinte e dois anos de idade. Tive aulas de Antropologia Física com um dos melhores biólogos e geneticistas franceses, Jean Hiernaux. Uma das primeiras coisas que ele me ensinou era que a raça não existe biologicamente. Através de suas aulas, li François Jacob, Nobel de Fisiologia (1965) e um dos primeiros franceses a decretar que a raça pura não existe biologicamente; e J.Ruffie, Albert Jacquard e tantos outros geneticistas antirracistas dessa época. Portanto, sei muito bem, e bem antes de Demétrio que o racismo não pode ter mais sustentação científica com base na noção das raças superiores e inferiores, que não existem biologicamente. Sei muito bem que o conteúdo da raça enquanto construção é social e político. Ou seja, a realidade da raça é social e política porque tivemos na história da humanidade povos e milhões de seres humanos que foram mortos e dominados com justificativa nas pretensas diferenças biológicas. Temos em nosso cotidiano, pessoas discriminadas em diversos setores da vida nacional porque apresentam cor da pele diferente. Nosso sistema educativo é eurocêntrico e nossos livros didáticos são repletos de preconceitos por causa das diferenças. Não sou um novato que ingressou ontem na universidade brasileira. No Brasil, fui introduzido ao pensamento racial nacional por grandes mestres, como João Baptista Borges Pereira, que foi meu orientador no doutoramento, Florestan Fernandes, Octavio Ianni, Oracy Nogueira, entre outros. Não sei onde estava Demétrio nessa época e em que ano ele descobriu que a raça não existe. Acho um exagero querer me dar lição de moral sobre coisas que eu conheço muito antes dele. Isto não quer dizer que ele não possa me ensinar temas pertinentes à geografia, como por exemplo, o que se pode ler em seu livro sobre a África do Sul – “Capitalismo e Apartheid”, publicado pela Editora Contexto, São Paulo, 1998, que oferece algumas informações interessantes sobre a história do sistema do apartheid. Esse livro faz parte da bibliografia recomendada na disciplina ministrada na Graduação, não obstante algumas incorreções históricas nele contidas. Um dos maiores problemas da nossa sociedade é o racismo, que, desde o fim do século passado, é construído com base em essencializações sócio-culturais e históricas, e não mais necessariamente com base na variante biológica ou na raça. Não se luta contra o racismo apenas com retórica e leis repressivas, não somente com políticas macrossociais ou universalistas, mas também, e, sobretudo, com políticas focadas ou específicas em benefício das vítimas do racismo numa sociedade onde este é ainda vivo. É neste sentido que faço parte do bloco dos intelectuais brancos e negros que defendem as políticas de ação afirmativa e de cotas para o acesso ao ensino superior e universitário. Na cabeça e no pensamento de Demétrio Magnoli, todos os que fazem parte desse bloco querem racializar o Brasil, e isso faz parte de um projeto e de um plano de ação. Que loucura! Defendemos as cotas em busca da igualdade entre todos os brasileiros, brancos, índios e negros, como medidas corretivas às perdas acumuladas durante gerações e como políticas de inclusão numa sociedade onde as práticas racistas cotidianas presentes no sistema educativo e nas instituições aprofundam cada vez mais a fratura social. Cerca de 70 universidades públicas estaduais e federais que aderiram à política de cotas sem esperar a Lei ainda em tramitação no Senado entenderam a importância e a urgência dessa política. Acontece que essas universidades não são dirigidas por negros, mas por compatriotas brancos que entendem que não se trata do problema do negro, mas sim do problema da sociedade, do seu problema como cidadão brasileiro. Podemos dizer que todos esses brancos no comando das universidades querem também racializar o Brasil, suprimir os mestiços e incentivar os conflitos raciais? Afinal, podemos localizar os linchamentos e massacres raciais nos Estados onde se encontram as sedes das universidades que aderiram às cotas? Tudo não passa de fabulações dos que gostariam de manter o /status quo/ e que inventam argumentos que horrorizam a sociedade. Quem está ganhando com as cotas? Apenas os alunos negros ou a sociedade como um todo? Quem ingressou através das cotas? Apenas os alunos negros e indígenas ou entraram também estudantes brancos da escola pública? Concluindo, penso que existe um debate na sociedade que envolve pensamentos, filosofias e representações do mundo, ideologias e formações diferentes. Esse pluralismo é socialmente saudável, na medida em que pode contribuir para a conscientização de seus membros sobre seus problemas e auxiliar a quem de direito, o legislador e o executivo, na tomada de decisões esclarecidas. Este debate se resume a duas abordagens dualistas. A primeira compreende todos aqueles que se inscrevem na ótica essencialista, segundo a qual a humanidade é uma natureza ou uma essência e como tal possui uma identidade genérica que faz de todo ser humano um animal racional diferente dos demais animais. Eles afirmam que existe uma natureza comum a todos os seres humanos em virtude da qual todos têm os mesmos direitos, independentemente de suas diferenças de idade, sexo, raça, etnias, cultura, religião, etc. Trata-se de uma defesa clara do universalismo ou do humanismo abstrato, concebido como democrático. Considerando a categoria raça como uma ficção, eles advogam o abandono deste conceito e sua substituição pelos conceitos mais cômodos, como o de etnia. De fato, eles se opõem ao reconhecimento público das diferenças entre brancos e não brancos. Aqui temos um antirracismo de igualdade que defende os argumentos opostos ao antirracismo de diferença. As melhores políticas públicas, capazes de resolver as mazelas e as desigualdades da sociedade, deveriam ser somente macro-sociais ou universalistas. Qualquer proposta de ação afirmativa vinda do Estado que introduza as diferenças para lutar contra as desigualdades, é considerada, nessa abordagem, como um reconhecimento oficial das raças e, conseqüentemente, como uma racialização do Brasil, cuja característica dominante é a mestiçagem. Ou, em outras palavras, as políticas de reconhecimento das diferenças poderão incentivar os conflitos raciais que, segundo dizem, nunca existiram. Assim sendo, a política de cotas é uma ameaça à mistura racial, ao ideal da paz consolidada pelo mito de democracia racial, etc. Eu pergunto se alguém pode se tornar racista pelo simples fato de assumir sua branquitude, amarelitude ou negritude? Como se identifica então o geógrafo Demétrio: branco, negro, mestiço ou Demétrio indefinido? Pelo que me consta, ele se identifica como branco, mas não aceita que os negros e seus descendentes mestiços se identifiquem como tais e lutem por seus direitos num país onde são as grandes vítimas do racismo. A menos que ele negue a existência das práticas racistas no cotidiano brasileiro, e as diferenças de cor, sexo, classe e religiões que exigiriam políticas diferenciadas. A segunda abordagem reúne todos aqueles que se inscrevem na postura nominalista ou construcionista, ou seja, os que se contrapõem ao humanismo abstrato e ao universalismo, rejeitando uma única visão do mundo em que não se integram as diferenças. Eles entendem o racismo como produção do imaginário destinado a funcionar como uma realidade a partir de uma dupla visão do outro diferente, isto é, do seu corpo mistificado e de sua cultura também mistificada. O outro existe primeiramente por seu corpo antes de se tornar uma realidade social. Neste sentido, se a raça não existe biologicamente, histórica e socialmente ela é dada, pois no passado e no presente ela produz e produziu vítimas. Apesar do racismo não ter mais fundamento científico, tal como no século XIX, e não se amparar hoje em nenhuma legitimidade racional, essa realidade social da raça que continua a passar pelos corpos das pessoas não pode ser ignorada. /Grosso modo, /eis as duas abordagens essenciais que dividem intelectuais, estudiosos, midiáticos, ativistas e políticos, não apenas no Brasil, mas no mundo todo. Ambas produzem lógicas e argumentos inteligíveis e coerentes, numa visão que eu considero maniqueísta. Poderão as duas abordagens se cruzar em algum ponto em vez de se manter indefinidamente paralelas? Essa posição maniqueísta reflete a própria estrutura opressora do racismo, na medida em que os cidadãos se sentem forçados a escolher a todo momento entre a negação e a afirmação da diferença. A melhor abordagem seria aquela que combina a aceitação da identidade humana genérica com a aceitação da identidade da diferença. Para ser um cidadão do mundo, é preciso ser, antes de mais nada, um cidadão de algum lugar, observou Milton Santos num de seus textos. A cegueira para com a cor é uma estratégia falha para se lidar com a luta antirracista, pois não permite a autodefinição dos oprimidos e institui os valores do grupo dominante e, conseqüentemente, ignora a realidade da discriminação cotidiana. A estratégia que obriga a tornar as diferenças salientes em todas as circunstâncias obriga a negar as semelhanças e impõe expectativas restringentes. Se a questão fundamental é como combinar a semelhança com a diferença para podermos viver harmoniosamente, sendo iguais e diferentes, por que não podemos também combinar as políticas universalistas com as políticas diferencialistas? Diante do abismo em matéria de educação superior, entre brancos e negros, brancos e índios, e levando-se em conta outros indicadores socioeconômicos provenientes dos estudos estatísticos do IBGE e do IPEA, os demais índices do Desenvolvimento Humano provenientes dos estudos do PNUD, as políticas de ação afirmativa se impõem com urgência, sem que se abra mão das políticas macrossociais. Não conheço nenhum defensor das cotas que se oponha à melhoria do ensino público. Pelo contrário, os que criticam as cotas e as políticas diferencialistas se opõem categoricamente a qualquer política de diferença por considerá-las a favor da racialização do Brasil. As leis para a regularização dos territórios e das terras das comunidades quilombolas, de acordo com o artigo 68 da Constituição, as leis 10639/03 e 11645/08 que tornam obrigatório o ensino da história da África, do negro no Brasil e dos povos indígenas; as políticas de saúde para doenças específicas da população negra como a anemia falciforme, etc., tudo isso é considerado como racialização do Brasil, e virou motivo de piada. Convido o geógrafo Demétrio Magnoli a ler o que escrevi sobre o negro no Brasil antes de se lançar desesperadamente em críticas insensatas e graves acusações. Se porventura ele identificar algum traço de defesa do racismo científico em meus textos, se encontrar algum projeto ou plano de ação para suprimir os mestiços e racializar o Brasil, já que ele me acusa de ícone desse projeto, ele poderia me processar na justiça brasileira, em vez de inventar fábulas que não condizem com minha tradicionalmente pública e costumeira postura."

segunda-feira, 6 de julho de 2009

O valor é o homem

Por Roswitha Scholz

RESUMO

Este artigo discute o problema da correlação entre capitalismo e patriarcado, que, segundo a autora, ainda permanece sem solução, após vinte anos de pesquisa feminista. A autora rejeita a tentativa que fazem alguns grupos feministas de - ao tentar introduzir a problemática dos sexos como relação social constitutiva na crítica marxista ao patriarcado - conferir ao trabalho doméstico o mesmo estatuto do trabalho assalariado, o que levaria a uma reificação ainda maior das relações sociais no plano teórico. E propõe a tese de que a contradição básica da socialização através da forma-valor é determinada com especificação sexual. Tratar-se-ia, portanto, de compreender o trabalho abstrato e o valor como princípio masculino, caso contrário se recairia numa hierarquia conceitual, em que a distribuição dos papéis sexuais é remetida a uma correlação secundária.

Leia o artigo completo aqui

sexta-feira, 3 de julho de 2009

VIII Congreso Internacional de Salud Mental y Derechos Humanos

19 al 22 de noviembre de 2009
Estimados compañeros y compañeras:

Los convocamos a participar del VIII Congreso Internacional de Salud Mental y Derechos Humanos, organizado por la Universidad Popular Madres de Plaza de Mayo, a realizarse entre el 19 y el 22 de noviembre de 2009 en las sedes de nuestra Universidad, sita en Hipólito Yrigoyen 1584 y 1432, Ciudad de Buenos Aires.

Hemos sostenido colectivamente este espacio de encuentro fraterno y de intercambio riguroso de praxis críticas en Salud Mental y Derechos Humanos, durante 8 años. Los invitamos a renovar con potencia el compromiso en la construcción de conocimiento, discursos y prácticas que gesten ámbitos de producción de la Salud Colectiva de nuestros pueblos. La socialización de las experiencias, compartidas por todos/as con generosidad durante todos estos años, ha ido contribuyendo a que se forjen vínculos, modos de intercambio solidario, encuentros en los quehaceres concretos y utopías activas.

Las Madres, fuente maravillosa de luchas internas e invenciones amorosas, nos desafían con ternura, otra vez, a continuar abriendo los senderos de transformar el mundo transformándonos.

Madres que pariendo día a día en territorios de las rebeldías vitales generan, desde hace 32 años, lugares para vivir deviniendo humanidades dignas. Fundamentos de origen de la Salud Mental, Salud Colectiva y los Derechos Humanos.

Al interior de este acontecimiento se efectuará El VI Encuentro de Lucha Antimanicomial, y el IV Encuentro Internacional de Detenidos en Movimiento.

Los saludamos a la espera del momento en que podamos personalmente compartir la experiencia que ya echamos a andar.

Núcleo Organizador

VIII CONGRESO INTERNACIONAL DE SALUD MENTAL Y DERECHOS HUMANOS


ASOCIACION MADRES DE PLAZA DE MAYO

EJES TEMATICOS PARA LA PRESENTACION DE TRABAJOS

Todos los ejes trazan horizontes posibles de desarrollo de trabajos para los que deseen socializar sus reflexiones como expositores durante el congreso. También son los vectores sobre los que debaten, producen y luego socializan sus producciones los invitados al Congreso.

La sugerencia básica que realizamos a las compañeras y compañeros que nos envíen sus trabajos es que busquen abordar la temática que anhelen articulándola tanto a la que nos convoca centralmente “Clínica, Política: Subjetivaciones y Multiplicidad” como a los “ejes” que ofrecen “vías de entrada” a ello. Ello posibilitará que nos aboquemos a trabajar colectivamente las cuestiones planteadas como deseables de ser debatidas por los participantes en el Congreso anterior.

AREAS TEORICO/PRACTICAS

EJES DESDE DÓNDE INTERROGAR NUESTRO QUEHACER

Psicología;

Psicología Social;

Psicoanálisis;

Psiquiatría;

Dinámica de Grupos;

Derecho;

Arteterapia;

Psicodrama;

Trabajo Social;

Psicopedagogía;

Comunicación Social;

C. Políticas y Sociales;

C. De la Educación;

S. Pública y Comunitaria;

Esquizoanálisis;

Nuevos Dispositivos Clínicos;

Filosofía;

Antropología

Terapia Ocupacional

Musicoterapia


  • Clínicas y Políticas: las diferencias, las multiplicidades y las intervenciones

  • Praxis críticas: subjetivaciones y lógicas colectivas

  • La clínica y las transformaciones: cambios, diferencias y repeticiones

  • Salud Mental, Derechos Humanos y devenir colectivo

  • Salud Colectiva: ciudadanía, participación y construcciones sociales

  • Derechos Humanos: gestación de Salud Mental de los Pueblos

  • La multiplicidad de Escuelas: Convergencias y Divergencias

  • Lo institucional: entre lo homogéneo, lo diverso y lo múltiple

  • Lo grupal: entre la invención de la multiplicidad y la reiteración de lo igual

  • Dispositivos clínicos: subjetividades y lo social histórico



FORMAS DE PARTICIPACION

Mesas Redondas

Mesa de presentación de trabajos libres

Talleres

Posters

CONDICIONES DE PRESENTACIÓN DE TRABAJOS

Modalidad de presentación:

Requisitos indispensables para la aceptación de las propuestas, sin excepción.

Trabajo Libre:

- Resumen: no deben exceder las 15 líneas o 250 palabras. Sin requerimientos técnicos.

- Trabajo completo: Extensión del trabajo hasta 4 carillas. La bibliografía debe constar en la página 6.

Primera Página:

Título; nombre del/los autor/es; Institución a la que pertenece; dirección, teléfono, e-mail y

debe incluir EL EJE Y EL AREA TEORICO/PRACTICA, DESDE LA QUE SE PROPONE EL TRABAJO (de lo contrario no se podrá recibir la propuesta). Objetivos: Temática principal y conclusiones.

Mesas redondas: especificar, además, panelistas y Coordinador. Resumen de la propuesta de la mesa de 15 líneas o 250 palabras. Resumen y trabajo completo de las ponencias de los panelistas que no exceda las 6 carillas. Los requerimientos técnicos serán evaluados según la disponiblidad material.

Talleres: especificar los objetivos y la metodología a desarrollar. Presentar resumen de 15 líneas o 250 palabras. Sin requerimientos técnicos

Posters: medidas: 80 cm por 1m; se deberá presentar un resumen del mismo. Sin requerimientos técnicos.

IMPORTANTE:

La fecha final para la presentación de resúmenes es hasta el viernes 11 de septiembre. Trabajos completos se envían del 18/09 al 15/10.

Los RESÚMENES se presentarán únicamente por página web en http://www.ndata.com.ar/congreso/

Indicación de autorización para publicación futura del trabajo.

El Comité Científico se reserva el derecho de aceptación de los trabajos.

ARANCELES (para Argentina y Latinoamérica) (en pesos)



Alumnos UPMPM


30 $

Alumnos Universidades Públicas

40 $

Alumnos Instituciones Privadas

45 $

Profesionales de la salud Inst. Públicas

40 $

Docentes instituciones. Públicas

40 $

Profesionales

50 $

Jubilados

15 $

Público en general

50 $



INFORMES E INSCRIPCION

UNIVERSIDAD POPULAR MADRES DE PLAZA DE MAYO (Sede 2)

Hipólito Yrigoyen 1432 1º Piso (1089) Capital, Buenos Aires Argentina

INFORMES por mail: congreso@madres.org Tel.: (54 11) 4382-1055

INFORMES E INSCRIPCION: www.madres.org

quinta-feira, 2 de julho de 2009

XI Colóquio Internacional sobre Poder Local

Está aberto até 01/08/2009 o período de submissão de trabalhos completos para o XI Colóquio Internacional sobre Poder Local. O Colóquio é promovido pelo Centro nterdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social (CIAGS) e Núcleo de Pós-Graduação em Administração (NPGA), sediados na Escola de Administração da UFBA.

Evento tradicional nas áreas de Administração e Planejamento Urbano e Regional, o XI Colóquio Internacional sobre o Poder Local ocorrerá em um ano especialmente marcado por crises, revisões paradigmáticas, emergência de novos perfis de liderança e estilos de vida, por novas formas organizativas e pela centralidade atribuída aos territórios, recortadas em múltiplas escalas nacional, regionais e locais.

A universidade brasileira vive um importante momento de transição com ampliação do acesso e inclusão, revalorização profissional e novos critérios de qualificação do trabalho acadêmico. Um evento que ocorre há 23 anos e foi reconhecido como Internacional 1A no QUALIS não é, há muito tempo, um evento de uma universidade ou sociedade científica. É um evento de uma comunidade plural, que discute resultados e processos de pesquisa, ensino, aprendizagem e difusão social.

O XI Colóquio fará um reconhecimento à contribuição de ilustres baianos ao desenvolvimento brasileiro em diferentes disciplinas: Milton Santos, Alberto Guerreiro Ramos, Anísio Teixeira e Rômulo Almeida. A obra desses pensadores será discutida a partir de conferências distribuídas ao longo do Colóquio, dando continuidade aos estudos realizados por grupos de pesquisa do país. Além disso, toda a identidade visual do evento é inspirada na obra do fotógrafo Sílvio Robatto, o qual dedicou grande parte de sua obra ao registro das manifestações populares da Bahia.

Data do evento: 14 a 16 de dezembro de 2009

Local: Salvador/Bahia

Submissão de trabalhos:

a) Sessões Temáticas:

1. Economia Mundial, Crises e Perspectivas para o Desenvolvimento Territorial

2. Gestão Social, Poderes Multiescalares, Interorganizaçõ es Territoriais

3. Valores, Consumo e Estilo de Vida

4. Administração Pública e Gestão Social

5. Inovação, Empreendedorismo e Tecnologias Sociais

6. Cotidiano, Poder e Conflito

7. Participação, Empoderamento e Subjetividade

8. Gestão Internacional

9. Gestão Cultural, Criatividade e Empreendedorismo

10. Gestão de Segurança Pública

11. Gestão Socioambiental

12. Economia Plural e Solidária

13. Responsabilidade Social e Territórios

14. Ensino e Pesquisa em Gestão Social e Desenvolvimento Territorial: Perspectivas Multi,

Inter e Transdisciplinares

15. Temas Livres

b) Oficinas

1. Temas livres

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Mais informações:

www.coloquiociags. ufba.br

coloquio@ufba. br

(71) 3247-5477 | 3331-2949

I ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOLOGIA SOCIAL NO VALE DO SÃO FRANCISCO

A PSICOLOGIA SOCIAL NO VALE: TECENDO POSSIBILIDADES

Local: Universidade Federal do Vale do São Francisco
Av. José de Sá Maniçoba, S/N - Centro CEP: 56304-205 Petrolina/PE

Público Alvo: Estudantes, pesquisadores e profissionais da psicologia e áreas afins.
Período:
25 a 27 de setembro de 2009

Inscrições:
Estudantes: R$ 30,00 (trinta reais)
Profissionais: R$ 60,00 (sessenta reais)
Para sócios da ABRAPSO: 50% de desconto

Inscrições realizadas até 31 de agosto de 2009 terão 20% de desconto:

Estudantes: R$ 24,00 (vinte e quatro reais)
Profissionais: R$ 48,00 (quarenta e oito reais)

Submissão de atividades: até 31 de julho de 2009

Informações para inscrições e submissão de trabalhos, acesse:

www.abrapsovale. blogspot. com

quarta-feira, 1 de julho de 2009

THE WEATHER UNDERGROUND:

O PROTESTO ESQUECIDO DOS ESTADOS UNIDOS
Alexandre Werrneck

O ano é 1969. Um grupo de ativistas de esquerda sai às ruas para protestar contra o governo, que impõe à juventude do país um dos maiores sofrimentos por ela já vividos. Para mudar as coisas no país, os jovens não hesitarão em depredar, seqüestrar, matar. Esse é um retrato bastante típico dos "anos de chumbo" no Brasil. Por isso mesmo, talvez seja tão difícil acreditar que ele descreve um momento da história... dos Estados Unidos. Tempo de Protesto (The Weather Underground) é um documentário surpreendente. Os diretores americanos Sam Green e Bill Siegel reencontraram vários dos antigos líderes do The Weather Underground, grupo de ativistas radicais formado por jovens brancos e idealistas americanos que começaram nos anos 60 lutando contra a guerra do Vietnã e viraram uma cruzada para derrubar o governo. O movimento pintou o caneco até ser encerrado, em 1981. Fez passeatas, quebrou vitrines, botou bomba no Capitólio, matou gente, e outras barbaridades inimagináveis para um nativo da Terra do Tio Sam pós-11 de setembro.

Além das entrevistas, os cineastas deram um mergulho em mais de 70 horas de imagens de arquivo, para selecionar imagens de protestos inacreditáveis até para o mais radical ativista antiglobalização de hoje. Ao ouvir os líderes do Underground, hoje mais velhos, fica a impressão de que aquele pessoal tentou, mas não conseguiu mudar o mundo. Um fio de desesperança parece escorrer de cada fala. "Alguns deles têm arrependimento, e talvez não fizessem de novo o que fizeram, mas eles têm o impulso, o desejo de que haja mudanças radicais", diz Sam Green, na piscina do Copacabana Palace. Na cidade para a exibição de seu filme no Festival do Rio (Bill Siegel foi para o Festival de Vancouver), ele conversou com a Outracoisa. Nascido em Detroit há 37 anos e hoje morador de São Francisco, o cineasta afirma que a situação em seu país está tão "foda" que "o outro lado" (quem não é nem republicano nem democrata) se desesperou e resolveu partir para o ataque, o que explica o surgimento de tantos filmes americanos criticando os EUA recentemente, como o seu ou Tiros em Columbine, do excêntrico Michael Moore. Tempo de Protesto participou da competição de documentários do Sundance Film Festival de 2003 e ganhou o Golden Gate Award de melhor documentário no San Francisco Film Festival deste ano. Na entrevista a seguir, Green fala dos complexos personagens do Underground, explica como se pode fazer filmes políticos sem ser um cineasta político e comenta a pedra no sapato do mundo, seu país, os EUA.

Muita gente no Brasil sequer imaginava a existência de um grupo que quis derrubar o governo nos EUA. Os americanos sabem que houve uma ditadura no Brasil?

Os americanos não sabem quase nada sobre o Brasil. Nós temos uma piada nos EUA que diz que essas guerras todas em que o país entra são feitas mesmo é para ensinar geografia para os americanos. Parece ser a única maneira de fazer as pessoas saberem onde é o Iraque ou o Afeganistão. Acho que os americanos só vão saber mais sobre o Brasil quando algum presidente americano resolver invadi-lo (risos).

No Brasil nós tivemos um "tempo de protesto" com vários grupos de ativistas radicais. A impressão que se tem hoje é que o pessoal que foi combativo ficou dócil. Em seu filme, tem-se essa mesma impressão do Underground. Que impressão você teve?

Eu cresci nos anos 80 e havia movimentos radicais no México, na América Central, na Europa, no Japão e a impressão clara era a de que eles estavam todos derrotados. As pessoas que cresceram nos anos 80 ficaram cínicas, com a crença de que você nunca poderá mudar o mundo. Eu mesmo me sentia assim. Mas eu queria ter ideais. Por isso me interessei tanto por eles. Quanto mais aprendo a respeito mais entendo que não é algo simples como dizer que eles tentaram e se deram mal e por isso mudaram. Todos eles estão ainda fazendo coisas. Eles têm hoje 50 a 60 anos e, nessa idade, você não faz mais as mesmas coisas que fazia quando tinha 20. Não se trata só de as pessoas terem mudado. O mundo mudou. Mas ainda há o desejo de mudar as coisas de uma maneira radical. Todos eles querem a revolução, mas não sabem como fazê-la agora. É uma condição triste, mas inspiradora, porque há tanta coisa acontecendo com os jovens dos movimentos antiglobalização. Eles podem falhar, mas se não tivermos esperança, é melhor cometer suicídio.

A impressão que se tem ao ouvi-los é que eles estão arrependidos.

Eles têm sentimentos conflituosos. Era luta armada e é complicado quando você pensa que no passado você fez coisas horríveis, mesmo que por uma boa causa. Alguns deles têm arrependimento, mas eles têm o impulso, o desejo de que haja mudanças radicais. O que é primordial, porque as coisas estão foda!

Você diria que um papel do filme é mostrar às novas gerações que é possível lutar?

Há um trecho de 1984, de George Orwell, que acho maravilhoso, quando ele explica como o partido domina tudo: "Quem controlar o presente, controla o passado. E quem controlar o passado, controlará o futuro". Porque se você sentir quer ninguém nunca fará nada, claro que nunca fará nada também. Nos EUA, somos muito controlados politicamente! O seu presidente, Lula, nos EUA estaria tão longe do que é aceitável que ninguém sequer escreveria sobre ele no jornal e ele nunca chegaria ao poder.

E você, o que achou do Weather Underground como alternativa política?

Não posso pensar nessa história em termos de certo ou errado. Trabalhei no filme por quatro anos e ainda não sei o que é certo ou o que é errado. Admiro aquelas pessoas, que tiveram muita coragem. Cada um deles, nas entrevistas, disse que eles tinham a nítida impressão de que não iam sobreviver. Admiro-os por isso. Mas, por outro lado, não tenho como não pensar que o que eles tentaram fazer não funcionou. Eles não fizeram a leitura correta do mundo, acreditaram que a revolução estava prestes a acontecer e não estava. É importante ser crítico.


Você se considera um cineasta político?

Em geral, arte e política não se misturam muito bem. Há muitos artistas politizados ruins, porque dizem: "isto é bom, isto é ruim". Não quero fazer isso. Por isso acho desconfortável misturar política e cinema. Mas, ao mesmo tempo, os filmes que faço tratam de assuntos políticos. Mas tento fazê-los respeitando a inteligência das pessoas. Acho que é muito difícil fazer um filme político bom, complexo, esteticamente instigante. Gostaria de fazer isso, mas não quero fazer parte desse grupo dos "cineastas políticos".

Muita gente diz que o digital foi uma revolução no cinema, porque democratizou a feitura de filmes como o seu. O que você acha disso?

Eu também adoro a idéia de pegar uma câmera digital, filmar e fazer a montagem com meu próprio computador, mas a verdade é que neste filme tínhamos imagens de arquivo e eu tive que pagar por elas. O filme se tornou uma grande produção porque tivemos que pagar toneladas de dinheiro para a Disney. As imagens vieram da ABC, que pertence à Disney.

Como o filme foi recebido nos Estados Unidos?

Trabalhei nele por quatro anos e começamos o trabalho antes do 11 de setembro. Antes, as pessoas achavam só uma história esquisitona. Mas depois de 11 de setembro, o clima no país mudou. Algum tempo depois, voltou a haver um movimento enorme de pessoas que querem George Bush fora e o filme voltou a ter certa relevância. Ele passa em cinemas por todo o país e a reação tem sido surpreendentemente positiva.


O que está havendo com os Estados Unidos? Bush governa vocês, vocês bombardeiam o Afeganistão, bombardeiam o Iraque etc. Ao mesmo tempo, os filmes mais radicalmente críticos aos EUA são americanos, como o seu filme ou os de Michael Moore.

Acho que o país está tão polarizado, com os republicanos e democratas de um lado, que o outro lado se desesperou. As pessoas não acreditam mais no sistema e estão com raiva. E elas entenderam que se não fizerem nada, nada vai mudar.

Como você vê o futuro de Bush?

Ele está perdido. Acho que ele vai perder feio. É a minha aposta... E minha esperança. Tem que ser, porque as coisas vão tão mal... Está foda! O que mais impressiona é que ele age como se estivessem maravilhosas.

Bush e outros governantes ajudaram a criar um dos movimentos mais fortes no mundo hoje: o anti-americanismo. Vejo você criticando Bush, mas você é americano. Como você vê a existência de um movimento contra seu país?

É muito simples: a América tem diferentes faces. Eu odeio a face de Bush também, mas, ao mesmo tempo, há várias coisas na América que me agradam. Mesmo com todo a desconfiança pós-11 de setembro, ainda é um país em que pessoas de diferentes culturas podem viver juntas. Os ideais americanos são nobres. O que temos que fazer é com que esses ideais sejam levados a cabo de fato, sem manipulação.

Link: Site do filme (www.theweatherunderground.com).

Fonte: Revista Outra Coisa (www.revistaoutracoisa.com.br).