sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Não começou em Seattle não vai acabar em Copenhagen

N30! Quem viveu nunca esquecerá!

Por Naomi Kein

O aniversário dxs ativistas de Seattle em Copenhagen será muito desobediente

http://www.guardian.co.uk/commentisfree/cifamerica/2009/nov/12/seattle-coming-age-disobedient-copenhagen

A conferência do clima testemunhará uma nova maturidade do movimento que se iniciou uma década atrás. Mas isso não significa jogar mais seguro.

Naoime Klein
Guardian.co.uk, Quinta 12 de Novembro 2009 20.30 GMT

Outro dia recebi uma pré-publicação sobre A Batalha da História da Batalha de Seattle, por David e Rebecca Solnit. Feito para sair 10 anos após uma histórica coalizão de ativistas acabarem com o encontro da OMC em Seattle ? a fagulha que incendiou um movimento anti-coorporativo global.

O livro é um fascinante relato do que realmente aconteceu em Seattle; mas quando falei com David Solnit, o guru da ação direta que ajudou a acabar com o encontro, o encontrei menos interessado em relembrar sobre 1999 do que em falar sobre o encontro sobre aquecimento global das Nações Unidas que está por vir em Copenhagen e as ações de "justiça climática" que ele está ajudando a organizar nos EUA no 30 de Novembro. "Este é definitivamente um momento do tipo Seattle" Solnit me disse. "As pessoas estão prontas pra arrebentar."

Há, certamente, uma qualidade de Seattle nas mobilizações de Copenhagen: a gama de grupos que estarão lá; as tática diversas que serão mostradas; e os governos dos países em desenvolvimento [mais conhecidos como subdesenvolvidos N.T.] prontos a trazes as demandas dxs ativistas ao encontro. Mas Copenhagen não é meramente uma outra Seattle. Ao contrário, sente-se, ao mesmo tempo em que as placas tectônicas progressivamente se movem, a criação de um movimento que se constrói sobre as forças de uma era anterior mas também aprende com seus erros.

A grande crítica ao movimento que a mídia insiste em chamar de "anti-globalização" foi sempre que se tinha uma grande lista de queixas e poucas alternativas concretas. O movimento que se converge em Copenhagen, ao contrário, é sobre uma causa somente ? aquecimento global ? mas agita uma narrativa coerente sobre suas causas, e curas, que incorporam virtualmente cada questão no planeta.

Nessa narrativa, o clima não está mudando somente por causa de práticas poluidoras específicas mas em razão da latente lógica do capitalismo, que valoriza lucro a curto prazo e crescimento perpétuo sobre qualquer outra coisa. Nossos governos queriam que acreditássemos que a mesma lógica poderia ser aproveitada para resolver a crise climática ? criando um produto de troca chamado "carbono" e transformando florestas e áreas rurais em pias que iriam supostamente contrabalancear escorrendo tais emissões.

Ativistas em Copenhagen vão questionar isso, longe de resolver a crise climática, o negócio do carbono representa uma privatização sem precedentes da atmosfera, e essas compensações e "pias" virem a ser um recurso de proporções coloniais. Não somente essa "soluções-baseadas-no-mercado" falham em resolver o problema da crise climática, mas essa falha irá aprofundar os níveis de pobreza e desigualdade dramaticalmente pois os mais pobres e vulneráveis são as primeiras vítimas do aquecimento global ? assim como os porquinhos da índia para esses esquemas de negócios de emissão.

Mas xs ativistas em Copenhagen não vão somente dizer não a tudo isso. Elxs vão agressivamente avançar em soluções que simultaneamente reduzam as emissões e diminuam as desigualdades sociais. Diferente de encontros anteriores, onde alternativas pareciam ficar em segundo plano, em Copenhagen as alternativas estarão no centro do palco.


Por exemplo, a coalizão de ação direta Ação Justiça Climática tem chamado ativistas a perturbar o centro de conferências no 16 de Dezembro. Muitxs farão isso como parte do "bike bloc", pedalando juntxs mostrando a "irresistível nova máquina de resistência", feita de centenas de bikes velhas. O objetivo dessa ação não é bloquear o encontro, estilo-Seattle, mas abrí-lo, transformando-o em "um espaço para falar sobre nossa agenda, uma agenda dxs de baixo, uma agenda da justiça climática, de soluções reais contra as falsas ... Esses serão os nossos dias".

Algumas das soluções em oferta do campo ativista são as mesmas que o movimento por justiça global tem levado por anos: agricultura local e sustentável; projetos pequenos e descentralizados; respeito por terras e direitos indígenas; deixar os combustíveis fósseis no solo; e pagar por essas transformações através de impostos sobre transações financeiras e cancelando as dívidas externas. Algumas soluções são novas, como a demanda de que os países ricos paguem o "débito do clima" para a reparação dos países pobres. Temos visto, como no ano passado, o tipo de recursos que nossos governos podem dispor quando é para salvar as elites [crise capitalista 2008. N.T.]. Como um slogan pré-Copenhagen coloca: "Se o clima fosse um banco, já teria sido salvo" ? não abandonada à brutalidade do mercado.

Em adição à narrativa coerente e a focalização nas alternativas, existem ainda muitas outras mudanças: uma aproximação mais pensada à ação direta, uma que reconheça a urgência de se fazer mais do que ficar somente no discurso mas determinada a não entrar no velho script ativistas vs. polícia. "Nossa ação é uma desobediência civil," dizem xs organizadorxs da ação de 16 de Dezembro. "Passaremos por qualquer barreira que esteja em nosso caminho ? mas não responderemos com violência se a polícia (tentar) agravar a situação." (Dito isso, não há como o encontro de 2 semanas não incluir uma poucas batalhas entre polícia e xs meninxs de preto; isso aqui é a Europa, no fim das contas.)

Uma década atrás, num comentário do New York Times após o bloqueio de Seattle, escrevi que um novo movimento reinvidicando uma forma radicalmente diferente de globalização "acabou de ter sua festa de estréia". Qual será a importância de Copenhagen? Coloco essa questão a John Jordan, cuja previsão do que eventualmente aconteceu em Seattle eu citei no meu livro No Logo. Ele respondeu: "Se Seattle foi a festa de estréia do movimento dos movimentos então provavelmente Copenhagen será a celebração do nosso amadurecimento."

Ele precavê, porém, que amadurecer não significa "jogar com mais segurança", ou abster-se de desobediência civil em favor de reuniões. "Espero crescermos para nos tornarmos muito mais desobedientes," disse Jordan, "porque a vida nesse nosso mundo pode terminar por cause de muitos atos de obediência"

* guardian.co.uk © Guardian News and Media Limited 2009

Nenhum comentário:

Postar um comentário