por Rafael Castilho
Nos próximos dias, os
principais telejornais do mundo estarão com suas câmeras focadas no Rio de
Janeiro.
No entanto, a Rio+20 está longe
de representar um alento ou um fio de esperança para a comunidade
internacional.
Vinte anos atrás, a Eco 92
reuniu um bom número de chefes de Estado no primeiro encontro internacional
sobre meio ambiente após a queda do bloco soviético.
Na ocasião, o presidente dos
EUA era o George Bush (pai) e o presidente do Brasil era o Collor.
A Rio+20 se propõe a fazer uma
releitura dos debates ocorridos há vinte anos. “Reacordar” o que foi acordado,
mas não foi cumprido. Reinventar o fracasso.
A Eco 92 foi engendrada sob a
luz de um “mundo novo”. Com o colapso do bloco soviético, o planeta teria apenas
um modelo econômico e social possível.
O capitalismo havia vencido a
guerra fria e não haveria mais espaço para qualquer alternativa de modelo
político.
E se existia alguma teoria
econômica vitoriosa, era o neoliberalismo. Reagan, Tchatcher e Bush haviam
vencido a “ameaça comunista” com um choque de eficiência econômica, que incluía
a derrota de seus inimigos internos, aumentando a reserva de mão-de-obra e
dissolvendo os sindicatos.
Pronto! Era o fim da
história.
Para a geração dos anos 90
restava se apoiar nas “teorias” de auto-ajuda. Uma maneira de lutar pelo
progresso pessoal, sem eleger nenhum inimigo político como elemento causador dos
infortúnios cotidianos.
Discutir política? Nem
pensar.
Os movimentos ambientalistas
ofereceram um cardápio de opções para que os idealistas ocupassem sua pauta de
reivindicações.
A grande maioria dos
ambientalistas é imbuída de boas intenções. Mas a missão que lhes foi entregue
era a de lutar pela preservação do planeta sem ameaçar o status quo e
desorganizar as relações políticas e econômicas estabelecidas.
O próprio conceito de
sustentabilidade é uma piada.
Consumo sustentável? Como
assim?
Trata-se de um engodo defender
a tese de que é possível impedir a deterioração do planeta sem transformar o
modelo econômico predatório que transformou a humanidade em “bateria” para
carregar o lucro das grandes corporações.
Como se a preservação do
meio-ambiente dependesse apenas da consciência e boa vontade dos homens, ou do
mero comprometimento dos políticos e chefes de Estado. O mercado e os grandes
interesses econômicos a que os Estados e seus indivíduos estão subordinados
ficam de fora do debate. Como se fossem entes alheios ao processo.
Funciona assim: o mercado é
bom, os homens é que são maus. Veja só, toda grande empresa hoje em dia tem suas
metas de responsabilidades ambientais em seus sites, não é verdade?
A busca pela proclamada
“eficiência” do neoliberalismo, obriga também os empresários a maximizarem suas
oportunidades de ganhos para competir no mercado e ao fim do mês pagarem o que
devem aos bancos.
Não há espaço para uma nova consciência ambiental. Isto é uma mentira.
Não há como salvar o planeta
cuidando do meio-ambiente, como se o homem estivesse do lado de fora.
Não há como tratar com
seriedade a questão do desmatamento sem harmonizar a relação do homem com a
terra.
De que adiantam as campanhas
publicitárias se os trabalhadores do campo vivem ainda como nômades porque não
tem garantido o direito à propriedade de terra?
Existem centenas de artistas
globais fazendo campanhas ambientais, mas nenhum deles defendendo a reforma
agrária.
O aumento na produção de
alimentos poderia salvar bilhões de pessoas da fome. Mas para que serve gente?
Para nada. Os seres humanos não passam de estatística para essa gente.
Existem centenas de ONG’s
financiadas para defender árvores, mas muito poucas que se preocupam com os
bilhões de famintos.
Atores “globais” protestam
contra Belo Monte. Tudo muito chique. Mas qual destes artistas apareceu na tevê
cobrando investimentos em saneamento básico nas cidades brasileiras?
A poluição dos rios não
acontece simplesmente porque as pessoas não têm educação.
Quem vive equilibrado num morro
ou numa área de manancial não o faz por mero “estilo de vida”. A falta de acesso
à moradia é uma tragédia humanitária. Mas quem se preocupa com o ser
humano?
A Rio+20 é uma farsa,
simplesmente porque ela já nasce de uma mentira.
Não é à toa que os filmes de
Hollywood, quando retratam os tempos futuros apresentam uma realidade
destroçada. O homem vive no subterrâneo, no mar, em desertos. Tudo está
destruído. No fundo, todo mundo sabe que não existe futuro para a humanidade
neste sistema capitalista predatório.
Vamos sim defender o planeta.
Proteger os rios, as árvores e o ar. Mas comecemos cuidando dos homens. Porque
não haverá de existir equilíbrio ambiental se não houver equilíbrio
social.
Cuidar da natureza é cuidar do
homem; cuidar do homem também é cuidar da natureza.
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