por Nei Lopes
Micróbio é bactéria, protozoário, fungo patogênico. Então, é preciso ter cuidado. Pode tirar a graça, o sincopado, o miudinho, o bolebole das cadeiras. E ficar só aquele bumbo chato, batendo lá na frente. Dito isso, vamos ao que interessa:
Qualquer discussão sobre samba tem que começar com a separação da forma tradicional (que é transmitida oralmente através dos tempos, sendo quando muito, objeto apenas de registros de pesquisadores) e essa produzida em escala industrial e difundida pelos meios de comunicação de massa.
Até os primeiros anos da década de 1960 – quando a bossa-nova ainda era chamada pelos pesquisadores de “samba moderno”, e a sigla MPB ainda não tinha sido inventada -- o chamado “samba de morro” (hoje, “samba de raiz”) ainda configurava uma “cultura”, ou seja, comportava um conjunto de traços distintivos, herdados da tradição. O sambista tinha vestuário, fala, gestual, comportamento, hábitos etc. bem característicos. E o samba era expressão artística no sentido mais amplo, envolvendo criação e performance, inclusive coreográfica.
Tudo isso foi se enfraquecendo na medida que os núcleos e redutos do samba se modificavam, com o distanciamento das escolas de suas comunidades, com o primado do espetáculo em detrimento do espírito associativo. E aí até a dança foi esquecida.
O pessoal das velhas-guardas, num saudosismo melancólico, ainda tenta organizar almoços, passeios, visitas, como nos outros tempos. Mas, na sociedade atual, nada se faz senão visando o retorno financeiro. Então...
Sobre a exclusão do samba do universo definido pela sigla MPB, achamos que é resultado de uma estratégia de mercado que infelizmente deu certo. Por quê um samba cantado por um artista alinhado ao pop internacional vira “MPB”? Por quê um samba feito por um compositor negro e pobre é recebido de maneira diferente daquela que é recebido o de um compositor pertencente a uma família patriarcal ou burguesa ? Por quê o repertório da bossa-nova (“Só danço samba”; “Samba do avião”; “Samba de uma nota só”, etc) não é efetivamente reconhecido como samba?
Na minha visão, tudo isso é principalmente fruto do incômodo que o protagonismo negro ainda causa. E ocorre para que o samba, enquanto cultura, fique restrito à Bahia. E, no Rio, seja apenas uma música carnavalesca, de difusão restrita ao mês de fevereiro e à “avenida” Marquês de Sapucaí. Ou uma música de botequim. Ou, ainda, uma forma diluída, vazia, cada vez mais próxima do pior pop internacional.
**
Dito isto, ergamos um brinde (consciente) pelo “Dia Nacional do Samba”.
Micróbio é bactéria, protozoário, fungo patogênico. Então, é preciso ter cuidado. Pode tirar a graça, o sincopado, o miudinho, o bolebole das cadeiras. E ficar só aquele bumbo chato, batendo lá na frente. Dito isso, vamos ao que interessa:
Qualquer discussão sobre samba tem que começar com a separação da forma tradicional (que é transmitida oralmente através dos tempos, sendo quando muito, objeto apenas de registros de pesquisadores) e essa produzida em escala industrial e difundida pelos meios de comunicação de massa.
Até os primeiros anos da década de 1960 – quando a bossa-nova ainda era chamada pelos pesquisadores de “samba moderno”, e a sigla MPB ainda não tinha sido inventada -- o chamado “samba de morro” (hoje, “samba de raiz”) ainda configurava uma “cultura”, ou seja, comportava um conjunto de traços distintivos, herdados da tradição. O sambista tinha vestuário, fala, gestual, comportamento, hábitos etc. bem característicos. E o samba era expressão artística no sentido mais amplo, envolvendo criação e performance, inclusive coreográfica.
Tudo isso foi se enfraquecendo na medida que os núcleos e redutos do samba se modificavam, com o distanciamento das escolas de suas comunidades, com o primado do espetáculo em detrimento do espírito associativo. E aí até a dança foi esquecida.
O pessoal das velhas-guardas, num saudosismo melancólico, ainda tenta organizar almoços, passeios, visitas, como nos outros tempos. Mas, na sociedade atual, nada se faz senão visando o retorno financeiro. Então...
Sobre a exclusão do samba do universo definido pela sigla MPB, achamos que é resultado de uma estratégia de mercado que infelizmente deu certo. Por quê um samba cantado por um artista alinhado ao pop internacional vira “MPB”? Por quê um samba feito por um compositor negro e pobre é recebido de maneira diferente daquela que é recebido o de um compositor pertencente a uma família patriarcal ou burguesa ? Por quê o repertório da bossa-nova (“Só danço samba”; “Samba do avião”; “Samba de uma nota só”, etc) não é efetivamente reconhecido como samba?
Na minha visão, tudo isso é principalmente fruto do incômodo que o protagonismo negro ainda causa. E ocorre para que o samba, enquanto cultura, fique restrito à Bahia. E, no Rio, seja apenas uma música carnavalesca, de difusão restrita ao mês de fevereiro e à “avenida” Marquês de Sapucaí. Ou uma música de botequim. Ou, ainda, uma forma diluída, vazia, cada vez mais próxima do pior pop internacional.
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Dito isto, ergamos um brinde (consciente) pelo “Dia Nacional do Samba”.
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