Exército Zapatista de Liberação Nacional
“[…] Do que temos de pedir perdão? Do que vão nos perdoar? De não morrer de fome? De não calar diante da nossa miséria? De não ter aceitado humildemente a gigantesca carga histórica de desprezo e abandono? De levantarmos em armas quando encontramos fechados os outros caminhos? […] De ter demonstrado ao resto do país e ao mundo inteiro que a dignidade humana ainda vive e está em seus habitantes mais pobres? De termos consciência da necessidade de uma boa preparação antes de iniciar a luta? De ter ido ao combate armados de fuzis no lugar de arcos e flechas? De ter aprendido a lutar antes de insurgirmo-nos? […] De lutar por liberdade, democracia e justiça? De não seguir os modelos das guerrilhas anteriores? De não nos render? De não nos vender? De não nos trair? Quem tem de pedir perdão e quem pode outorgá-lo? Os que, por longos anos, saciavam sua fome sentados a uma mesa farta enquanto nós sentávamos ao lado da morte, tão quotidiana e tão nossa que aprendemos a não ter medo dela? […] Os nossos mortos, que são a maioria, que morreram, democraticamente, entre os sofrimentos, já que ninguém nunca fez nada, porque todos os mortos, nossos mortos, partiam, de repente, sem que ninguém se desse conta, sem que ninguém dissesse, finalmente, o “basta!”, que devolvesse o sentido a essas mortes, sem que ninguém pedisse aos mortos de sempre, aos nossos mortos, que regressassem para morrer outra vez, mas agora para viver? […] Quem deve pedir perdão e quem pode outorgá-lo?”
Nossa! Que texto! Arrepiei.
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