Nhandía significa na língua mazateca a mae dos pontos de encontro. É a senhora de tudo que parte e retorna. Ela se confunde com Nashinanda, conceito que define o pertencimento ao povo mazateco. É uma interseccao dos muitos caminhos que nos levam e nos trazem nas experiências dessa vida.
Nao há lugar que nao se possa ir, encontro que nao se deva ter, amor que nao seja possível viver e um mundo que nao se pode conhecer. Hoje Exù encontrou Nhandía.
Um encontro para nao deixar dúvida que sempre podemos tomar outros rumos. Foi uma conversa casual com os programadores da Rádio Comunitário de Mazatlán Villa de Flores. Falavamos sobre espiritualidade e de parte de nossas cosmovisoes, os olhares que se podem ter a partir de Nashinanda (o povo mazateco) e os de nossos lindos Orixás. Falava eu de Exú e falaram eles de Nhandía. E assim foi durante toda uma manha agradável no alto das montanhas do norte de Oaxaca, México.
Uma das coisas lindas e importantes de um mito é que ele é de algum modo o acúmulo de experiências que com o tempo uma coletividade, uma comunidade, ou povo, vai se apropriando e resignificando para sua vida. É uma das principais expressoes da mentalidade coletiva. Um ponto indicativo para transmissao das memórias. Como falou Enrique Florescano, a verdade de um mito nao está em seu conteúdo, se nao no fato de ser uma crenca aceita por vários setores sociais. É um meio de comunicacao, um instrumento para manifestar as aspiracoes e desejos coletivos. E como dizia também George Sorel, é a expressao histórica de um povo!
Por isso falar de um mito é falar de um rastro passado que nos interpreta e influencia nos tempos presentes. O encanto dessa históra é que nao se trata de uma imaginacao fantasiosa ou de um fato comprovável, mas do impacto que isso pode gerar em nossas vidas.
Exú e Nhandía nao sao simplesmente mitos de uma literatura que uma parte do povo acessa. Sao materialidades de um pensamento coletivo que podem mudar condutas e inspirar novos caminhos. Considerar um mito como algo distante e fruto de um mero sonho é negligenciar conhecimentos e experiências que nos ajudam a entender as escolhas que fizemos e as que faremos em algum momento. Enfim, está para além da fé e se junta as necessidades de transformacao, metamorfose e autonomia que carregamos.
Exú e Nhandía sao diálogos da e pela diferenca, assim como da urgencia por reconhecimento das singularidades e das necessidades que cada lugar tem. Sao conversacoes exclusivas de cada povo e sua cultura com o outro, com aquele que vem de fora, mas que será sempre igualmente escutado e bem-vindo. As afirmacoes de Exú e Nhandía sao ampliacoes do respeito, da convivencia e do cuidado.
Laroye Exú! Nashinanda Nhandía!
ps- estou sem alguns acentos...rs
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