segunda-feira, 4 de julho de 2011

Quando a gente vira tio mesmo.

Minha cunhada e meu irmão aos 3 meses.

Eu vou ser tio! Faz um tempo que a molecada me chama de tio, mas agora é pra valer. A foto ai mostra o casal responsável por isso. O gordinho com cara de dono de pizzaria ou de ponto de jogo do bicho é meu irmão. A senhora com pinta de madame é a cunhada. Tudo gente fina! Mesmo! Essa coisa de ter sobrinha já tá me fazendo pensar um milhão de coisas. Primeiro pela alegria que isso proporciona. Depois pelo privilégio. Por fim o desafio. A alegria é fácil de entender e identificar. Essa criaturinha que vai chegar já conta com um monte de gente louca por ela. Meu irmão e minha cunhada são simplesmente pessoas que amo e ser tio da filha deles é um contentamento enorme. Logo, isso nos leva ao privilégio. Como tio me caberá uma importante tarefa na educação dessa pessoinha. Sou da opinião que todos devem de algum modo ajudar na formação de seu mais novo membro familiar. O privilégio é que posso eu conduzir minha sobrinha ao melhor do “lado escuro da força”! Brincadeira... até porque se minha cunhada souber disso vai me proibir de ver a menina... Mas dá pra falar de lugares bem especiais, como por exemplo, que deve ela ser dona de si mesma; que é importante saber a hora de desobedecer e que isso é uma arte que pode levar a vida toda para se aprimorar, mas que siga sempre praticando; obedecer para ser aceito é coisa de cachorro e gado, não se preocupe com esse tipo de gente infeliz; que confie em seu coração e não se deixe paralisar, mas respeite o medo; que se importar com a vida alheia é uma perda de tempo; não importa a família que uma pessoa tem, mas sim suas atitudes e ideias independentes de onde venha; precisa saber que Zapata e Zumbi vivem!; muito cuidado: a tendência é julgar os outros pelo que fazem e a nós mesmos pelo que pensamos; que sua alfabetização deve conter clássicos como Guimarães Rosa, Tolstói, Clarice, Machado de Assis, Plínio Marcos e claro que todos os livros da minha querida amiga Cidinha da Silva; não preciso comentar as toneladas de quadrinhos que irão invadir seu quarto... cabe a mim também ajuda-la a lutar contra o mau gosto e as imbecilidades da grande mídia, logo fará parte semanalmente de sua formação cultural músicas de Chico Buarque, Toquinho, Raúl Seixas, Tom Zé, Racionais Mcs, Palavra Cantada e Arnaldo Antunes, e para iniciar sua aprendizagem em espanhol Mercedes Sosa, Lila Dows, um pouco de ska mexicano, rock argentino e Piazola; Então diante disso, o desafio. Desafio de ajuda-la a se sentir sempre orgulhosa e digna de pertencer a uma raça linda que é a do povo negro; Ser feliz por ser herdeira de uma ancestralidade única e especial; não tenho certeza de onde vem o povo da família da minha cunhada, mas lá em casa é todo mundo do Reconcavo Baiano, índios do sertão pernambucano, negros do interior do Goiais, e um pouco mais longe, Africa do norte, precisamente Etiópia, o berço da humanidade; desafio que numa realidade tão massacrante que faz qualquer coisa para transformar tudo e todos em estúpidos consumidores, espectadores alienados e passivos oprimidos, não se esquecer que ter dinheiro é bom, que não ter nada é foda, mas que isso não é tudo e nem o principal; que deve buscar uma espiritualidade que lhe ajude a ser melhor e feliz, e não a recriminar, condenar e odiar pelo fato do outro ser diferente; evitar esses lugares e pessoas que cheias de hipocrisia usam o nome de grandes figuras para se beneficiar e enganar; que não precisa ser salva de nada, que já é linda e completa como tal; desafio de entender suas necessidades e respeitá-las nessa sua perfeição; o desafio da paciência; que há dias lindos, mas também alguns cinzentos; desafio de ajudá-la a saber que deve fidelidade primeiramente a seus próprios sentimentos, e que bons amigos são verdadeiras fortunas; desafio de estabelecer uma amizade sincera e genuína com alguém que ainda nem chegou. Bom, de repente não vai ser nada assim... e dá pra garantir alguma coisa? A gente tenta ajudar para que no fundo ela só seja ela mesma e que acerte mais do que erre, que ria muito mais do que chore, que se alegre mais que sofra. Vamos ver... Mas que isso de ser tio é mesmo uma maravilha, isso é!
O primeiro presente da minha sobrinha:
boneca tradicional zapatista feita em Chiapas.

Minha cunhada aos 6 meses.

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