Agende-se para o fim do ano,
dias 9, 10 e 11 de Dezembro de 2011
Mestre Virgílio de Ilhéus, Mestre Jogo de Dentro e Mestre Plinio.
Veja programação completa e informações no blog.
http://irmaosdeangola.blogspot.com/
A respeito das metamorfoses e dos bons combates na psicologia e na política.
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Por Gabriela Pessoa e Lucas Campacci
O sobradinho vermelho no número 702 da Rua Wanderley, em Perdizes, passa quase desapercebido entre as construções vizinhas, de arquitetura semelhante. Tal condição talvez diga muito sobre as atividades que aconteciam lá dentro. Naquele espaço, funcionou até 3 de junho de 2011 a Casa do Saci, que envolve empreendimentos de geração de renda criado por trabalhadores e usuários do sistema de saúde mental e que oferece a possibilidade de transpor a barreira entre o isolamento provocado pela doença e o convívio em sociedade.
O Saci integra a Associação Vida em Ação (AVA), fundada em 2004 no contexto das discussões sobre o Fórum Paulista da Luta Antimanicomial, movimento cuja principal bandeira é o fim dos hospitais psiquiátricos. Fixou-se na Wanderley em 13 de março de 2010, onde funcionavam o Bar Saci, a Lojinha do Saci, a Livraria Louca Sabedoria e a sede da AVA.
Ao todo, 12 trabalhadores do Bar dividiam-se nas tarefas da casa, seguindo os princípios da economia solidaria, isto é, autogestionada, com a produção centrada no bem-estar dos trabalhadores. Ao final de cada mês, o excedente monetário era calculado da maneira mais simples, com uma conta de subtração entre gastos e ganhos. “O que sobrava a gente dividia igual para todo mundo, de acordo com as horas trabalhadas”, conta Marilia Capponi, psicóloga e uma das coordenadoras do Saci.
Um dos trabalhadores mais antigo do projeto, Didous Danilevicz defende a importância do Saci como uma “ponte” entre a internação em hospitais psiquiátricos e “o mundo”: “Aqui a
gente pode errar. Lá fora, não”.
A maior fonte de renda da casa era o Bar do Saci, “um bar como qualquer outro”, conta Camila Miranda. E, como qualquer estabelecimento, sofreu com os altos e baixos do público. “O Saci era cheio no começo e aos poucos esse movimento foi caindo”, lamenta. À queda do faturamento, somaram-se as reclamações dos vizinhos, com queixas da música alta e do movimento na rua. “A casa antes era ocupada por estudantes e músicos, que faziam muito barulho. Então eles [os vizinhos] já vieram com preconceito, nem quiseram saber o que a gente era”, explica Marilia. Ela se recorda de um café promovido pelo coletivo a fim de apresentar a casa aos moradores da Wanderley: “Simplesmente não foram, olhavam a gente com repulsa”. Os dois vizinhos mais próximos foram procurados pela reportagem. Um deles não atendeu à campainha e o outro disse que o dono da casa não estava. A pressão dos vizinhos se reverteu no preço do aluguel. De acordo com Capponi, a proprietária do imóvel Maria Lopes da Silva não queria mais reclamações, aumentando o
valor da locação de 1200 para 2000 reais. “A gente chorou e foi para 1800”, conta. Marcos Fincati, advogado da locadora, disse que ela agora pede R$ 2300 pelo imóvel, devido à valorização do bairro. Ele não quis dar mais informações sobre a cliente, nem o contato dela. A conta do Saci não fechava mais e no final não sobrava dinheiro para pagar os trabalhadores. “Como podíamos permanecer num projeto de geração de trabalho sem gerar renda para os trabalhadores? Vai contra o principio lógico”, desabafa Marilia.
Além do espaço de confraternização, muitos também perderam grande parte de sua fonte de renda. É o caso de Risonete Costa, mãe de uma garota de 13 anos e afastada de uma multinacional devido a seu sofrimento psíquico grave. Esforçou-se para voltar ao antigo emprego, mas não conseguiu se adaptar. “No Saci eu consigo trabalhar e conviver com as pessoas, sem estar presa a um projeto dentro do CAPS ou em um hospital”, diz.
A Casa do Saci se despediu da Wanderley no dia 3 de junho de 2011, numa festa com 150 pessoas. Dentre os convidados, os frequentadores de sempre: jovens, militantes do movimento antimanicomial, estudantes de psicologia e usuários do sistema de saúde. Todos juntos, dividindo os cinco cômodos do sobradinho, sem as fronteiras que dariam margem ao preconceito.
A festa acabou e, agora, o Saci se equilibra do jeito que dá: seus pertences estão guardados nas casas de alguns trabalhadores e a maior parte está em Box pago pelo Sindicato Paulista de Psicologia. Às terças-feiras, o ex-vizinho Instituto Sedes Sapientiae (esquina da Wanderley com a Ministro Godoi) sedia provisoriamente as reuniões do grupo, enquanto o coletivo procura outro espaço.
Saiba mais Casa do Saci
SÃO PAULO, no Estadão - O técnico em iluminação Denivaldo Pereira da Silva teve sentença favorável contra o diretor e ator Wolf Maia proferida na última sexta-feira, 2, pela 2ª Vara Criminal de Campinas. Maia foi condenado por injúria racial e sua pena é o pagamento de 20 salários mínimos mais prestação de serviços comunitários por cerca de dois anos.
Denivaldo trabalhava em uma empresa terceirizada em colaboração com a equipe de Wolf Maia na peça "Relax...It's sex...", quando o canhoneiro de luz faltou, conta o advogado de defesa Sinvaldo José Firmo.
Após o término do espetáculo, Maia teria feito uma reunião com todos que trabalharam na peça, com críticas aos que trabalharam na ocasião. Maia teria dito: "...o som é uma merda, a iluminadora não tem sensibilidade e ainda me colocaram um preto fedorento que saiu do esgoto com Mal de Parkinson, para operar o canhão de luz...", segundo a sentença.
O advogado de Maia, João Carlos de Lima Junior, disse que já recorreu da decisão e agora apela ao Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo. "Com certeza a decisão será revertida no Tribunal", disse Lima Junior. Ele afirmou ainda que seu cliente é uma pessoa pública, amplamente conhecida pela sociedade em mais de 30 anos de vida pública e "jamais faria uma coisa dessas."
A peça foi encenada em 2000, em Campinas. Em um primeiro momento, a 6º Vara Cível da cidade julgou improcedente o caso, por considerar não haver provas suficientes. A defesa de Denivaldo apelou ao TJ que, em 2004, determinou que o juiz aceitasse a denúncia.
De acordo com o advogado de defesa de Denivaldo, o técnico não conseguiu emprego na área depois do ocorrido e precisou passar por tratamento psicológico. "Ninguém mais queria contratá-lo porque ele estava mexendo com uma pessoa famosa. Ele ficou muito mal". "A justiça foi feita", concluiu.
Estava com alguns amigos, entre eles meu cumpradre Nuno, historiador cearense que vive um tempo por aqui também, e quando escutamos isso nos entreolhamos e pensamos: “ouvi direito o que ele falou?!” Sim, o fotógrafo afirmava, sem dizer como chegou a essa conclusão, que o Brasil não faz parte da América Latina.
A exposição foi inaugurada e passamos a olhar as fotos. Eu, paulistano de alma, entrei desconfiado. Afinal, depois de falar isso do Brasil o que poderia vir seria uma surpresa. As fotos são mesmo muito bonitas e ele faz um bom recorte da realidade de São Paulo. Estão lá imagens da ocupação Prestes Maia, do Banespa, da Luz, do Minhocão, dos condomínios de luxo do Morumbi, as ruas da Brasilândia, dos guaranis na zona sul, e de gente anônima nas muitas ruas da cidade. Foi divertido contar algumas histórias que vivi e que conheço desses lugares para os amigos que me acompanhavam. Não está mal, mas essa história de não ser latino...
Meu camarada Nuno foi o primeiro a escaldar o sujeito.
“Cara, como assim o Brasil não é América Latina?”
A resposta foi mais ou menos essa:
“Não é não. Primeiro que vocês não escutam rock espanhol. Depois a comida não tem nada que ver. Olha a Colombia e a Venezuela por exemplo, elas sim se parecem”.
“Cuméqueé?” Respondeu Nuno.
A gente ficou um tempo pensando sobre a maneira de entender o motivo do Brasil não ser latino pela visão do rapaz enquanto desfrutávamos do goró servido nessas ocasiões. Achava importante entender isso um pouco melhor. Fui eu escaldar um pouco também.
- Meu, as fotos estão boas.
Então, trim, trim, trim... o telefone dele toca e ele vai atender. Não volta. E eu ali de boca aberta pensando principalmente na ultima coisa que ele falou. “Os negros o quê?!” Parece que o rapaz comete dois erros muito comuns ao pensar a questão latino americana; que é o fato de que latino é “hablante” de espanhol, e o segundo erro, o da colonização. Esclarecendo então: América Latina é nesse sentido primeiramente uma construção geo-sócio-política. Mesmo com a diferença linguística entre espanhol e português (mas ambas são românicas) compartilhamos o mesmo processo em relação a construção desse território no continente americano, particularmente no último século. Em outras palavras, os gringos sempre trataram de nos foder igual! Se não leu leia “As veias abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano. Tá bem explicadinho. Os povos originários e seus idiomas sempre receberam tratamento parecido de seus colonizadores: repressão e extinção.
Isso nos leva ao outro ponto, e vou tomar o caso dos negros, questão misteriosamente surgida no exemplo do fotógrafo. O que muda no fundo é o processo de aculturação e construção do preconceito, porém todos compartilham de partida a mesma coisa: chegaram aqui raptados e para serem escravos. Até agora não aconteceram reparações adequadas ou reconhecimentos históricos e subjetivos sobre isso em nenhum lugar da América Latina. Estão os negros brasileiros, colombianos, hondurenhos e mexicanos em condições tão diferentes assim? Como se constrói o racismo em cada lugar? São distintos onde? Bom, na Argentina e Uruguai a coisa foi bem diferente mesmo... alí a morte foi mais explicita, se podemos dizer isso... e no México... eis aí algo para o fotografo passar a considerar. Saberá ele que existem negros no México? Para muitas pessoas aqui, particularmente a classe média, uma elite extremamente desconhecedora de seus processos históricos e racista como a mexicana (igualzinha a brasileira, afinal quem já não ouviu o absurdo de dizerem que não há racismo no Brasil?!), a resposta é clara: não há negros no México! Pois sendo esse o entendimento que se dá, realmente passamos a compreender porque o Brasil não é latino americano. Somos mais negros que indígenas, enquanto aqui é o contrário, e isso nos exclui da identidade latina. O que será que o rapaz pensaria de minha cor?
Outro ponto comum nos erros da questão latina, ou mesmo dos lugares não tão comuns sobre o reconhecimento, é o fato de se negar ao outro o direito a auto-determinação. Para começo de conversa, é latino quem diz que é! A coisa não é tão simples, mas dá pra entender. Como estamos considerando vários elementos subjetivos na formação da identidade, tanto individual como coletiva, é fundamental perguntar aos interessados e envolvidos nesse processo o que eles pensam de si mesmos. Claro que muitos brasileiros não se consideram latinos, particularmente porque não se tem o espanhol como língua oficial ou se a pergunta for feita para uma classe média branca acostumada com suas referencias européias; além de também existir um profundo desconhecimento dos processos de colonização por grande parte dos países latinos e do roubo de suas memórias. Temos que considerar isso, da mesma forma que o reconhecimento não se constrói sem uma memória justa, coisa que também até esse momento nunca rolou tendo o lugar da negritude nesses processos de formação do povo brasileiro e latino como um todo.
Mas se há algo que não se desconhece e que sabemos muito bem, é a relação entre as elites e as multidões; A polícia racista e a criminalização dos pobres; A corrupção institucional; A herança escravocrata; Os privilégios de cor e gênero; Os lugares subalternos; A mentalidade colonial; O classismo; As ditaduras; Os assassinatos; Os carros blindados; A quantidade de latinos na lista das pessoas mais ricas do mundo; Os movimentos sociais, caralho, os movimentos sociais!; a luta indígena; Os moradores de rua; A fome; etc, etc, etc. São todas coisas compartilhadas na América Latina de modo singular. São fatores pertencentes a processos sócio-políticos compartilhados, que possuem sim particularidades e modos próprios de operarem, mas facilmente identificados por todos latinos. A coisa é visceral e está no corpo. Não é determinante, mas claro que há sutilezas dependendo da classe social por onde você transita quando está em outro país e sua leitura pode ser bastante influenciada por isso. Por onde andou esse rapaz enquanto esteva no Brasil? Como se deu a aproximação com as pessoas que estão em suas fotos? Por onde andará ele no México? Então, como falei, latino é quem diz que é, mas que se garante! É negro quem se garante negro e é índio quem se garante índio.
No que diz respeito a solidariedade, nós brasileiros nos garantimos desde a Terra do Fogo até Tijuana. Na minha casa, e na de várias pessoas, se comem dois, comem três. Naquilo que interessa a luta por uma vida melhor, somos Mapuches, Xavantes, Garifunas, e Mazatecos. Nossa memória compartilha o terror da colonização que teve inicio a mais de 500 anos. Assim também, cantamos e dançamos sem esquecer de onde viemos. Somos um monte de comedores de feijão e milho e o trabalhador que bebe a cachaça no buteco da periferia paulistana tem as mesmas histórias que o mexicano na pulqueria em La Merced ou Tepito no DF. Aqui salário mínimo nunca foi sequer salário e mesmo assim vive uma família inteira com isso. Poetas sarcásticos que sempre farão piadas e “bromas” de portugueses e espanhóis, mesmo sabendo que muitos deles são “buena onda”. O gaúcho pode ter mais afinidade com o uruguaio do que com o maranhense, da mesma forma que o maia de Chiapas se aproxima mais do quatemalteco do que com o norteño. Aqui vivemos e agradecemos aos lindos Orixás, a única Pachamama e a la Guadalupe. Não somos latinos?
Eu digo que sou. E me garanto!
Por Núcleo de Negras e Negros Estudantes da UFRB (NNNE)
Cachoeira, 14 de agosto de 2011
Sábado, 13 de agosto, noite de início da Festa da Boa Morte, festividade que atrai muitos visitantes à cidade, a comunidade se reuniu em torno de um movimento cultural. A Praça 25 de junho agrupava na mais recente edição do Reggae na Escadaria - no centro de Cachoeira/BA ? um grande número de pessoas (Famílias, crianças, estudantes, idosos), onde por diversas vezes a viatura da polícia de número 9 2702 placa NTD 8384 passou vagarosamente observando de forma ameaçadora alguns espectadores, dando um prazo limite para que o som fosse desligado.
Por volta das 2 horas da manhã, quando o trânsito foi parado por uma colisão de carros, a viatura que passava no momento parou e os policias desceram, solicitando que o som fosse interrompido. Alegaram que muitas pessoas se reuniam no local atrapalhando o trânsito na via e também alegaram que os organizadores do evento não tinham autorização para realizar aquela atividade.
Os presentes sentiram-se indignados, manifestando-se através de vaias e frases de protesto, pois ao mesmo tempo inúmeros carros tocavam outros tipos de som em volume altíssimo. Os policias reagiram de forma agressiva e opressora. A PM Ednice iniciou a agressão contra um espectador que estava acompanhado por sua esposa e filho, o que causou ainda mais revolta entre os cidadãos. Os policias pararam a viatura ao lado da praça e permaneceram em formação fora do veículo. Uma parte dos policiais estava sem identificação. A residente Flávia Pedroso Silva se aproximou dos soldados e perguntou os nomes dos agentes que participavam da atuação. O que é direito de todo cidadão resultou numa ação ainda mais agressiva. Dois policiais homens a seguraram pelo braço dando voz de prisão por ?desacato à autoridade?. A vítima alegou irregularidade na atuação, pois sabido é que um policial homem não pode autuar mulheres. Os presentes reagiram e tiraram a menina da mão dos policias, que agrediram muitos dos presentes com empurrões quando o PM Elias atirou para cima ameaçando as pessoas que estavam próximas.
Pouco tempo depois chegaram mais duas viaturas e vários soldados que partiram para cima da estudante agredindo a ela e Glauber Elias, também negro e estudante da UFRB. No caso da estudante Flávia, o mais grave em nosso entendimento, os agressores usaram de violência física e psicológica, utilizando palavras de baixo calão, como vadia, puta e vaca. Mostraram também todo o preconceito em relação às tatuagens no corpo da estudante, usando disso para fazerem mais ameaças tais como ?você que gosta de marcas vamos deixar mais marcas em seu corpo?.
A garota foi colocada dentro do camburão, juntamente outro estudante presente, Luis Gabriel, que também questionou a ação dos policiais. Os mesmos soldados continuaram ameaçando outras pessoas, perguntando de forma sarcástica quem mais queria ser detido.
Ambos foram levados para o Posto Policial Militar do 2º Pelotão da 27ª CIPM - CPR LESTE, localizado na Rua Direta do Capoeiruçu/ Cachoeira. No local a garota foi agredida com tapas no rosto e agressões verbais em frente ao funcionário que registrava a ocorrência, e que ao ser solicitado o registro de tal agressão o mesmo declarou que não havia visto nada. Enquanto isso, do lado de fora da delegacia, testemunhas que estavam no momento da agressão permaneceram sob tensão com os policiais. A advogada que acompanhou todo o caso permaneceu pelo menos 30 minutos em frente a delegacia sendo impedida de entrar.
A vítima, ao expressar sua vontade de abrir ocorrência contra a violência e o abuso de autoridade, foi informada que não poderia fazê-lo pois, no local, não havia delegado e nem escrivão. Assim sendo, os envolvidos foram encaminhados para a DEPIN - 3ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior - Delegacia Circunscricional de Policia de Santo Amaro ? BA. Mesmo com a alegação da advogada de que seus clientes não poderiam ser transportados na parte traseira da viatura e que ela deveria acompanhá-los, os policias os colocaram no camburão e seguiram dizendo que não esperariam ninguém. Ao chegar em Santo Amaro, as vítimas nada puderam fazer, pois os policiais que receberam o caso disseram que não havia tinta na impressora para registrar a ocorrência da mesma e que esta voltasse num outro momento, atrasando desta forma todo o processo e a possibilidade de se fazer um exame de corpo de delito. Após uma espera ambos foram liberados e convocados para depoimento no dia 15 de agosto, às 10 horas. Vale ressaltar que mesmo com a alegação de não haver tinta na impressora, os policiais agressores registraram a ocorrência de desacato à autoridade.
Como podemos perceber, inúmeras irregularidades ocorreram no procedimento da abordagem policial. Desde o aparente desrespeito por parte destes policiais ao estilo musical Reggae, às reações de extrema violência da polícia para com a população, até os atos de violência ao longo do processo.
Enfatizamos a repressão ao reggae como demonstração de racismo da polícia cachoeirana, lembrando que a maior parte das pessoas que compunham o grupo local eram homens e mulheres negras. Também o tratamento contra a Flávia, desde as agressões físicas cometidas por policias do sexo masculino até os obstáculos postos diante da tentativa de prosseguir com a denúncia contra as ações destes policiais, tanto que até o presente momento ainda não foi possível o registro legal do caso, sendo que há apenas o processo da polícia contra os envolvidos.
Denunciamos assim a opressão explícita, ao saber que este não é o único e nem o primeiro caso de abuso e violência gratuita da polícia militar contra os cidadãos cachoeiranos, e exigimos desta forma providências do Estado contra os crimes praticados de violência policial, abuso de poder e violência do estado contra a população negra, a qual resultou na prisão irregular dos estudantes negros Flávia e Gabriel, configurando crime de racismo institucional.
Debate aberto com transmissão ao vivo pela internet.
Trabalho, engajamento e cultura livre: reprodução ou emancipação?
As práticas de cultura livre, que envolvem as atividades militantes ligadas às artes, informação, comunicação e educação são comumente incorporadas pelas empresas, indústrias culturais, academia e governos.
A partir daí, surge o questionamento sobre os limites entre trabalho e militância e quais os efeitos da aproximação com as relações capitalistas de produção, com o mercado e o poder constituído.
Em 2007, um grupo de ativistas e trabalhadores/as se debruçou sobre este tema num fórum de reflexão denominado "Cultura Livre e Capitalismo".
Este próximo encontro busca retomar essa reflexão, num momento em que a cultura livre ganhou ainda mais ascendência. Ele é concebido como uma conversa entre os atores deste processo e, portanto, se propõe a ser participativo e interativo.
Quando: 20/08/2011 (Sábado) - das 9:00 às 18:00
Onde: Ação Educativa, Rua General Jardim, 660 - São Paulo - SP
Próximo ao metrô Santa Cecília.
Entrada gratuita - não é necessário se inscrever
Mais informações aqui!
O México é um lugar encantador. Não raras as vezes que me sinto em casa, mas com um detalhe: é um conflito porque as vezes sinto esse lugar como sendo o Brasil a 20 anos atrás e em outros momentos um futuro do que nos espera.
Pois bem, a recepção vai acontecendo e tudo caminha numa enorme formalidade como manda o figurino. Flores, comida boa, birita e gente contente. Tô no Brasil! Eis que... Mas o que é isso que vai começar a tocar? E para não ter dúvida que estou em terras mexicas, aí vem os mariachis! A música é inconfundível e a roupa e o sombrero nem se fale! A coisa é raíz e a música dura mais de uma hora com os clássicos vindos da Cidade do México e norteños. Dançamos algumas, cantamos outras e a família se afoga em lágrimas. São gentis e querem que você se sinta bem. Muchas gracias!
Depois dos mariachis uma sequencia de salsa e cumbia que me ajudam a ter certeza que já sou quase candidato a bailarino do Rick Martín! Certo, certo, não é pra tanto, mas que tô melhorando isso sei que sim... A gente se descabelou, suou, bebeu e se divertiu bem. E depois disso tudo, a aniversariante nos brinda com uma de suas “performances”. Reza os “usos y costumbres” aqui que a aniversariante pode e deve fazer, além da valsa com o pai e os padrinhos, uma apresentação de algo muito particular. Ela cria uma coreografia surpresa! É um momento extremamente solene, onde todos silenciam, observam atentamente o que irá acontecer, seus desdobramentos e o final. Qualquer coisa pode acontecer. Nessa noite a jovencita junto com outros amigos elaboraram um mistura de hip hop, Shakira e mais uma tonelada de coisas do pop mexicano que não me lembro agora. Recordo que ela trocou de roupa muitas vezes, tanto de vestidos de gala como pra dançar no fim da noite. Foi surpreendente! Depois foi só norteñas e mais salsa.
E evidentemente esse não foi o fim da noite. Eu, já quase membro da família, aceito o convite dos primos pra seguir o desmadre. Agora sim me sinto o próprio Tin Tan e me acabo no antro até o dia clarear. Ainda bem que a tequila era boa, assim la cruda não te maltrata muito no dia seguinte... Fiquei pensando nas semelhanças e diferenças entre México e Brasil. Talvez tenha que fazer uma lista sobre isso, mas com certeza as festas de 15 anos são um bom exemplo pra começar.
Veja o vídeo aqui, com legendas em castelhano:
http://www.youtube.com/watch?v=A2hEpMzw6uA&feature=player_embedded
Segundo nossos ancestrais, é necessário sustentar o céu para que ele não caia. Ou seja, não é que o céu não esteja firme, mas sim, que, de vez em quando, fica fraco e quase desmaia e se deixa cair como as folhas caem das árvores, e então acontecem verdadeiras calamidades, porque o mal chega ao milharal, a chuva o quebra todo, o sol castiga o solo, quem manda é a guerra, quem vence é a mentira, quem caminha é a morte e quem pensa é a dor.
Disseram nossos ancestrais que isso acontece porque os deuses que fizeram o mundo, os primeiros, se empenharam tanto em fazer o mundo que, depois de terminá-lo, não tinham muita força para fazerem o céu, ou seja, o telhado de nossa casa, e o colocaram assim, do jeito que deu, e então o céu foi colocado sobre a terra como um desses telhados de plástico. Ou seja, o céu não está bem firme, mas, às vezes, parece que afrouxa.. E é necessário saber que, quando isso acontece, se desorganizam os ventos e as águas, o fogo se inquieta e a terra quer se levantar e caminhar sem sossego.
Por isso, os que chegaram antes de nós disseram que, pintados de cores diferentes, quatro deuses voltaram ao mundo e, tornando-se gigantes, colocaram-se nos quatro cantos do mundo para prendê-lo ao céu para que o céu não caísse, ficasse quieto e bem plano, para que o Sol, a Lua, as estrelas e os sonhos caminhassem por ele sem sofrimento.
Mas aqueles que deram os primeiros passos por essas terras contam também que, às vezes, um ou mais dos pilares, os sustentadores do céu, começasse a sonhar, dormir ou se distrair com uma nuvem. Então, o seu lado do telhado do mundo, ou seja, o céu, não fica bem esticado, afrouxado, quisesse cair sobre a terra. Já não fica plano o caminho do Sol, da Lua e das estrelas.
É isso que aconteceu desde o início. Por isso, os primeiros deuses, os que deram origem ao mundo, deram uma tarefa a um de seus sustentadores para ficar de prontidão, para ler o céu, ver quando começa a afrouxar. Então, esse sustendador deve falar aos demais sustentadores para que acordem, voltem a esticar o seu lado e as coisas se acomodem outra vez.
Esse sustentador nunca dorme. Deve sempre estar em alerta e de prontidão para acordar os demais, quando o mal cai sobre a terra. Os mais antigos no passo e na palavra dizem que esse sustentador do céu leva um caracol pendurado no peito e com ele ouve os ruídos e os silêncios do mundo, para ver se está tudo certo, e pelo caracol, chama os outros sustentadores para que não durmam ou para que acordem.
E dizem aqueles que foram os primeiros que, para não adormecer, esse sustentador do céu vai e vem para dentro e para fora do seu coração, pelos caminhos que leva no peito. Dizem aqueles mestres mais antigos que esse sustentador ensinou aos homens e às mulheres a palavra e a sua escrita, porque dizem que, enquanto a palavra caminha pelo mundo, é possível que o mal se aquiete e no mundo tudo esteja certo. Assim dizem.
Por isso, a palavra do que não dorme, do que está de plantão contra o mal e suas maldades não caminha direto de um lado para o outro, mas sim anda rumo a si mesma, seguindo as linhas do coração, e para fora, seguindo as linhas da razão. E dizem os sábios de antes que o coração dos homens e das mulheres tem a forma de um caracol e aqueles que têm bom coração e pensamento andam de um lado para outro, acordando os deuses e os homens para que fiquem de plantão para que esteja tudo certo no mundo. Por isso, quem vela quando os demais dormem usa o seu caracol, e o usa para muitas coisas, mas, sobretudo, para não esquecer.
Subcomandante Marcos, EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional), em Julho de 2003
Deus, a Natureza, essa força misteriosa graças à qual existimos — e acerca da qual não ouso aprofundar especulações para não prejudicar a pele, as unhas e o juízo — nos castigou com a maternidade e, para compensar, deveria nos conceder imunidade contra certos sentimentos, entre os quais o amor, que também estraga a pele, as unhas e o juízo. Sobretudo o juízo.
Ontem, depois de muito tempo, quase dois eternos meses, mergulhada na escuridão da loucura à qual fui atirada pela paixão por um cafajeste que me conquistou com barris e mais barris de lábia e de lágrimas, emergi quando num átimo de lucidez saquei que o dito cujo conseguiu me extorquir quase todo o saldo da caderneta de poupança com o pretexto de que era um empréstimo para estabelecer-se no comércio.
A estúpida aqui se sentia enlanguescida quando o filho da puta me dizia que já não conseguia suportar os ciúmes e a dor que sentia quando me sabia nos braços de outro homem, mesmo sabendo que para mim é um serviço como outro qualquer, no qual não há sentimento algum envolvido. E dizia que me libertaria dessa escravidão quando o seu negócio começasse a dar lucro, e me fazia assinar outro cheque.
Quase dois meses me enrolando. Nunca me disse onde investia o meu dinheiro. É uma surpresa. Mas é comércio do quê? Em qual rua? É uma surpresa, no dia da inauguração você vai ver. A loja está ficando linda, mais dois ou três meses. Espere, tenha calma. E beijava os meus olhos, beijava as mãos, a boca e me arrancava a roupa, me comia e me fazia assinar outro cheque.
Ontem eu não resisti à curiosidade e resolvi segui-lo. Peguei um táxi porque temia perdê-lo neste caos que é o trânsito em São Paulo. Melhor não dar aqui todas as voltas que o carro deu até chegar em uma rua no Tucuruvi. Ele estacionou e entrou em um prédio de apartamentos. Esperei uns cinco minutos e entrei no prédio. Francisco, o velho porteiro, encantado pela generosidade do meu decote, era todo loquacidade e em menos de dois minutos eu já sabia que o meu amantíssimo gigolô era casado e pai de três crianças.
Subi ao 904. Abriu a porta uma garotinha linda com cerca de sete ou oito anos de idade. Ela sorriu e aquilo me desarmou. Vi-me naquela menina. Vi-me quando tinha medo de escuro e me enfiava entre papai e mamãe quando acordava assustada com a escuridão da madrugada. Vi-me quando me escondia debaixo da cama para não assistir papai bêbado espancando mamãe. De dentro uma voz de mulher perguntou quem era. Baixinho eu disse que era engano e a menina gritou para dentro que era engano. Desci chorando de raiva porque não consegui executar o meu plano de vingança. Não, eu não poderia fazer aquilo. Aquela garotinha, seus irmãos, sua mãe, eles não tinham culpa da minha estupidez.
Ontem não voltei pra casa, como quem não voltaria para um quarto escuro. Caminhei à-toa, depois fui para a casa de Amália Malaquias, amiga cuja alegria contagiante é sempre capaz de me transformar o humor, de trazer-me de volta à luz. Agora, em casa, refeita, escrevo esse relato que se não servir pra nada mais, servirá pra que eu não me esqueça e caia outra vez na tentação de uma vida normal. Miguel ainda não sabe que eu sei. Hoje, quando vier, será recebido como se nada tivesse acontecido e eu o farei broxar, eu o humilharei naquilo que ele se considera infalível e eu o tangerei como quem tange uma vaca velha que não dá mais leite nem cria. Eu o cuspirei como quem cospe bagaço de fruta chupada. Ele não sabe com quem mexeu.